A Doença que Acompanha o Pedigree
- Pugna!
- 7 de abr. de 2020
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Com o desenvolvimento da ciência, o ser humano tende a esquecer limites éticos, enxergando avanços tecnológicos e lucro muito antes de tudo. Isso se expressa de forma por vezes discreta, por vezes escancarada. Porém, está sempre presente na nossa sociedade. Os nossos animaizinhos são um exemplo disso. Muitas pessoas não sabem, mas tem dentro de casa cachorros cujos antepassados foram vítimas do que alguns chamam de “melhoramento genético”, o que é nesse caso basicamente um termo usado quando modifica-se as características de um cachorro pensando em quais características lhe poderiam ser adicionadas de modo a torná-lo “mais agradável”, um produto, uma venda. Além de que, como se “melhora” algo que não estava ruim? Quem dita o que é ruim? Várias dessas modificações na verdade fazem os cachorros propícios a uma lista enorme de doenças.
Um exemplo muito famoso disso é o pug. Seus olhos esbugalhados, além do rosto e do focinho achatados, aumentam o risco para doenças oculares, ósseas e respiratórias. Por causa de suas curtas narinas e seu excesso de tecido, os animais dessa raça têm dificuldade de respiração, o que pode levar a desmaios ou até mesmo à morte súbita. Dada essa situação, o animal geralmente ingere ar, o que pode prejudicar sua saúde gastrointestinal. O regulamento de temperatura também é comprometido, já que nos animais é realizado através do nariz. Seus olhos, por serem tão grandes, estão propensos a lesões e suas pálpebras podem não fechar completamente. Alguns pugs apresentam inclusive deformidades em seus ossos, pois no cruzamento selecionado o objeto é mantê-los pequenos. Apresentam também doenças de pele causadas pelas suas várias dobrinhas ao longo do corpo, que podem gerar fungos. Além de tudo, são constantes problemas na reprodução pela grande cabeça do filhote, geralmente havendo a necessidade de cesárea.
Mesmo que há muito tempo não se possa ver como era um pug antes de ser modificado, hoje vemos animais que no futuro podem não mais existir da forma que são hoje. Não apenas pelo cruzamento seletivo, mas também pela mudança dos genes em laboratórios, uma questão muito controversa não somente pelas alterações que fazem em cães, mas pelas que poderiam ser feitas em humanos.
Em 2015 foi relatado um estudo em beagles num laboratório chinês. Apesar do real objetivo dos cientistas fosse criar mutações no DNA para imitar doenças humanas a fim de estudá-las e ajudar em sua prevenção, acabaram descobrindo uma mutação resultante da retirada do gene miostanina. Com isso, foi possível a criação de beagles com o dobro de massa muscular, além de serem mais velozes. Defendem alguns cientistas que seriam bons para servir à polícia. Porém, será que se analisou além das vantagens? O que uma mudança como essa significa à saúde do animal? Isso ainda importa?
O pug e o beagle são apenas dois dos muitos exemplos que sofrem diariamente pelas tentativas humanas de tentar “consertar” o que nunca esteve quebrado. Por isso, campanhas contra a compra e a venda de animais se tornam cada dia mais fortes e lutam contra a criação de cachorros pelo seu pedigree e sim pelo afeto, pelo amor. Muito mais que uma raça, é uma vida. Que comecemos então a refletir sobre nossas ações em relação a animaizinhos que a todo tempo só desejam reciprocidade no carinho, pois depois de tudo que vimos aqui, acredito que no fim o cachorro pode até ser o melhor amigo do homem, mas nós não temos sido bons amigos para os cachorros.
- Por Celi Mitidieri
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