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Agatha Christie: a rainha do crime

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 17 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

"Tudo começara como uma página de romance. Mas agora, terminado o encanto, as coisas se apresentavam como uma realidade sombria". Segundo o Guinness, mais de dois bilhões de livros escritos por Agatha Christie foram vendidos, fazendo dela a maior escritora de ficção de todos os tempos, um feito incrível, especialmente quando levamos em conta a época em que ela viveu. Mas afinal, o que se destaca tanto nas histórias de Christie e em sua escrita? Nesse artigo, tal questionamento será respondido e a história de Christie será analisada.


Agatha Marie Clarissa Miller nasceu no dia 15 de setembro de 1890, em Torquay, uma cidade no sudoeste da Inglaterra. Ela era a caçula de uma família rica de três irmãos. Sua mãe, Clara, era irlandesa e seu pai, Fred, era americano, o que proporcionou à Agatha e seus irmãos uma criação bastante incomum e culturalmente rica. Apesar de seus dois irmãos mais velhos terem estudado em colégios internos, Agatha teve uma educação domiciliar, tendo como tutor principal o seu pai. No entanto, ela já havia aprendido a ler sozinha aos cinco anos de idade, devido à solidão que sentia na ausência de seus familiares e à falta de atividades não domésticas que eram permitidas para meninas na época. Com isso, ela começou a explorar sua imaginação cada vez mais através da leitura e passou a escrever seus primeiros poemas e peças, cujos personagens principais eram ela e seus amigos imaginários.



Nesse mesmo tempo, quando Agatha tinha cinco anos, a família dela se mudou para a França, pois passavam por graves problemas financeiros. Consequentemente, Fred morreu após uma série de ataques cardíacos quando Agatha tinha onze anos, o que a aproximou de sua mãe mais do que nunca, visto que seus irmãos já eram financeiramente independentes. Mesmo com essas dificuldades, ela e Clara conseguiram conquistar a estabilidade necessária para que Agatha continuasse seus estudos, que no caso consistiam em aulas de piano e de canto.



Aos dezoito anos, Agatha desistiu da carreira musical e voltou a escrever contos, que foram publicados apenas em 1930, quando ela já havia adquirido sucesso no mundo literário. Por causa de novas dificuldades financeiras e problemas de saúde, Clara decidiu se mudar novamente com Agatha, só que dessa vez para um lugar bastante exótico e desconhecido por elas; o Cairo. As festas e centros arqueológicos de lá entretiveram Agatha bastante, e dos eventos que participou, certamente vários a inspiraram a escrever um de seus clássicos: "Morte no Nilo", no qual a morte da jovem Linnet, que foi ao Egito em sua lua de mel, é investigada.


Ao que fontes indicam, Agatha teria sido pedida em casamento diversas vezes nesse período. Ela sempre os recusava, porém sem fazer ideia de que seu primeiro amor (e mais tarde decepção) estava cada vez mais próximo. Em 1912, ela conheceu Archie Christie, membro da Força Aérea Real inglesa, e eles tiveram um caso rápido e um pouco tumultuado, mas intenso e apaixonado. No entanto, com a chegada da Primeira Guerra Mundial, Archie foi convocado aos combates, enquanto Agatha trabalhou voluntariamente em um hospital da Cruz Vermelha em sua cidade natal. Mesmo com esse cenário miserável, eles decidiram se casar no natal de 1914, período em que a guerra estava apenas no primeiro de seus cinco anos. Com o fim da guerra, eles finalmente se juntaram e começaram a experienciar a vida de casados.



Todavia, o casamento de Agatha não foi a coisa mais importante que aconteceu com ela durante a guerra. Enquanto trabalhava como enfermeira, ela começou a escrever seus primeiros mistérios e isso, surpreendentemente, não foi ideia dela; sua irmã mais velha, Madge, a desafiou a escrever uma história de suspense original que a entretivesse. E foi assim, num gesto rápido e despretensioso, que nasceu o primeiro livro de Christie, "O Misterioso Caso de Styles", e um dos detetives mais icônicos da obra dela e da história, Hercule Poirot. Para escrever o livro, ela usou seu recém-adquirido conhecimento médico e farmacêutico, especialmente no estudo dos venenos, que são uma parte substancial do enredo da obra. A inspiração para a criação de Poirot também veio por conta de experiências na guerra, mas de uma forma um pouco mais pessoal. Ao observar e conhecer refugiados belgas na Inglaterra, Agatha idealizou a figura de um policial belga que, após a guerra, decide viajar por países europeus, especialmente a Inglaterra, para desvendar crimes simplesmente por prazer.



No ano seguinte, 1919, Archie e Agatha se mudaram para Londres e tiveram uma filha, Rosalind. Também foi nesse ano que "O Misterioso Caso de Styles" foi, depois de algumas mudanças de enredo, publicado pela editora The Bodley Head. Depois disso, Agatha continuou a escrever e a criar outros personagens singulares, como a dupla de detetives Tommy e Tuppence, que tiveram sua primeira aparição em 1922, e a memorável Miss Marple. Uma curiosidade bastante interessante e inusitada sobre Agatha é que, aproximadamente em 1924, ela se tornou a primeira mulher inglesa a surfar de pé quando estava de férias com Archie em Cape Town.



Tudo ia bem; o casamento de Agatha e Archie andava estável, ela se sentia cada vez mais feliz por ter achado seu talento e tinha ganhado muito sucesso com suas obras. Porém, ao perceber que a The Bodley Head não respeitava por completo seus direitos autorais e criativos, Agatha decidiu mudar de editora. Ela contratou um agente, Edmund Cork, que a ajudou a achar uma nova editora, a William Collins and Sons (atual HarperCollins), que a tratasse devidamente.


Chegamos agora à parte mais chocante e triste da história de Agatha, um evento realmente digno de um livro de mistério. 1925 foi um ano difícil para ela, a mãe dela tinha morrido e ela passava a maior parte do tempo sozinha em Torquay, tentando escrever seu próximo livro. Foi nesse cenário em que ela descobriu que Archie, com quem estava tendo uma relação tumultuada, estava a traindo com sua amiga, Nancy Neale. Em dezembro daquele mesmo ano, Agatha deixou Rosalind sozinha com as empregadas sem dizer aonde ia. O carro dela foi abandonado em uma rodovia próxima à casa. A busca por Agatha ocorreu em nível nacional, os tabloides especulavam sobre seu desaparecimento: seria ele uma estratégia estranha de marketing para o lançamento de um dos seus livros ou ela realmente estava sofrendo? Com o contexto supracitado em mente, torna-se evidente que ela realmente não estava bem e que precisava de um tempo sozinha, mas talvez uma saída tão triunfal e misteriosa não fosse necessária. Isso me faz questionar o quanto Agatha estava imersa nas histórias que escrevia e o quanto elas se perdiam da realidade.



Depois de uns dias, as autoridades descobriram que Agatha, disfarçada, tinha viajado até a cidade de Harrogate e se escondido num hotel spa, se registrando lá com o nome completo de Nancy. Quando encontrada, ela estava com uma amnésia profunda e não se lembrava de quem era. Relatos da família Christie afirmam que ela nunca tocou no assunto depois de sua recuperação.


Após o divórcio, Agatha passou por diversos tratamentos psicológicos e decidiu morar em Londres com Rosalind e Carlo, seu mordomo, mas sua estadia lá não foi longa. Por causa de problemas financeiros, ela optou uma mudança às Ilhas Canárias, onde escreveu um livro sob o pseudônimo Mary Westmacott, que se tratava da história de uma escritora que se vê forçada a escrever apenas por dinheiro. Quando conseguiu estabilidade financeira, Agatha finalmente se sentiu a vontade para começar de novo.


E por que não começar realizando um sonho? Uma das metas de Agatha era viajar no Expresso do Oriente e então, sem pensar duas vezes, ela embarcou nessa jornada. Ela fez várias amizades e, em uma festa num sítio arqueológico, ela conheceu Max Mallowan, seu futuro marido, que tinha treze anos a menos que ela. Eles encontraram abrigo um no outro no cenário solitário da viagem, e Agatha finalmente encontrou um parceiro que a dava o amor que ela merecia. Eles se casaram em 1930 e nos primeiros anos de casamento mantiveram um sistema de correspondência quase semanal, já que Max tinha que terminar seus trabalhos no sítio arqueológico e Agatha tinha que voltar para Londres. Inspirada pelo Oriente Médio, ela escreveu algumas de suas maiores obras, como "Assassinato no Expresso do Oriente" e "Morte na Mesopotâmia".



Durante a Segunda Guerra, Max trabalhou como tradutor e Agatha como voluntária em seu tempo livre. Nesse período, ela escreveu sua obra mais intrigante, "E Não Sobrou Nenhum", e Rosalind se casou. No dia 12 de janeiro de 1976, Agatha morreu.


O que tornou Agatha Christie uma escritora tão talentosa foi a bagagem cultural que ela tinha, que deu a ela a habilidade de transportar o leitor a qualquer cenário de suas obras, tendo um impacto na nossa visão sobre cada personagem, não importa o quanto importante ele seja na história. Só isso? Claro que não; antes de Agatha, não havia uma perspectiva feminina sobre o crime, o assassinato e a psicopatia, e ela retratou cada um desses fenômenos com realismo, humanizando tanto vítimas quanto culpados. Tenho certeza que Poirot, assim como nós, se entreteria bastante tentando solucionar os mistérios encabeçados por ela.


Fonte: www.agathachristie.com



Por Ana Ferreira da Motta Costa

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