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Casamento e Homofobia: Avanço Jurídico não veio acompanhado de nova mentalidade

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 22 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

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Foto: tashatuvango - Fotolia


Casamento, tanto quanto um fator religioso, é um elemento social. Está presente em todas as culturas do mundo, com suas variações. Monogâmico, poligâmico, entre pessoas do mesmo sexo ou não. Dessa forma, não venha você querer justificar seu preconceito ao dizer que “Homossexuais podem se unir, mas não venha chamar isso de casamento. Casamento é sagrado”. Acreditem, eu escutei esse argumento.


É triste quando pessoas se limitam a pensar dentro de suas crenças já desenvolvidas, sem querer conhecer o mundo fora de suas experiências particulares e estudar. Ainda mais triste é quando querem que o mundo as sigam, como se todos fossem obrigados a viver pelos seus princípios. No mínimo, é ser muito egocêntrico. Isso quando a gente não fala homofóbico mesmo, o que é muito mais grave.


Infelizmente, essa é a realidade brasileira. Porém, não é exclusividade dela, visto que relações conjugais entre pessoas do mesmo sexo ainda é crime em 70 países no mundo, como Nigéria e Egito (1). Nessa conta, feita pela ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais) entraram apenas os 193 países que fazem parte da ONU. Ou seja, 35% deles criminaliza a homossexualidade, um percentual ainda muito alto. A pena varia de país para país, de prisão até morte.


Um exemplo famoso de assassinato, que apesar de há algumas décadas passadas ainda ser muito relevante, é o de Alan Turing. Sua história está retratada no filme Jogo da Imitação, no qual sua importância para a vitória Aliada na Segunda Guerra é inquestionável ao desenvolver o precursor do computador moderno. Ainda assim, a recompensa do governo britânico foi, em 1954, tirá-lo a vida por ser homossexual. Isso apenas dentro da legalidade. Imaginem então quantas pessoas não foram mortas nas mãos do preconceito popular. E para isso, nem vou muito longe. Afinal, no Brasil ocorre uma morte por homofobia a cada 23 horas. Nem um dia se passa sem que alguém morra pelo seu preconceito ou seu silêncio, pois ambos contribuem absurdamente para a morte de cada uma dessas pessoas, mesmo que ela não tenha sido executada pelas suas mãos.


Casamento não é “pedir demais”. Casamento não é uma afronta aos seus princípios. Casamento não é nada que você tenha que aceitar se ninguém te pediu a mão. Casar é um ato individual que em nada te diz respeito se não for você um dos noivos. E ainda há quem ouse dizer “ah, mas se o meu filho vir um casal homossexual se beijando será uma má influência”. Sexualidade não é uma escolha. Por que o seu filho escolheria ser agredido física ou verbalmente todos os dias? A vida é muito mais fácil para o hétero. E é para desconstruir preconceitos, para garantir direitos básicos de todo cidadão, que o casamento é tão importante. É um passo para a igualdade. O que há de tão errado com um ato de amor? Nada. Errado está quem não enxerga isso. O Estado que proíbe casamento entre pessoas do mesmo sexo é homofóbico. Que exemplo então terá sua população?


Reconheçamos os avanços alcançados nas últimas décadas. Afinal, em 1969, cerca de 74% da população mundial residia em países onde homossexualidade era crime. Atualmente, a porcentagem desceu para 23% (1). Isso não é pouca coisa. A luta está ganhando força e isso é muito significativo. Entretanto, reconheçamos também que esses dados não bastam, pois governos ainda não foram capazes de criar uma sociedade em que ser parte da comunidade LGBTQIA+ seja seguro. Estamos no caminho certo? Não sei. Afinal, quem está no caminho certo não elege um presidente abertamente homofóbico, como os casos do Brasil e dos Estados Unidos. Essas eleições mostram que essa evolução pode não ter sido acompanhada pela mentalidade da população, a qual se viu disposta a ignorar minorias. Na verdade, muito mais que isso, viu no atual presidente alguém para dar voz aos seus pensamentos e ideais preconceituosos. É preocupante enxergarmos essa dualidade entre o avanço jurídico e o retrocesso no âmbito eleitoral.


Em minha opinião, isso muito é reflexo da falta de educação popular. E não falo no sentido grosseiro, mas ignorante. Não se discute no colégio orientação sexual. Na verdade, parece haver um escândalo se esse tópico for mencionado. Porém, aqui não falo sobre ensinar ou incentivar práticas sexuais, mas saber que existe na sociedade mais do que apenas a heterossexualidade. Não somente para que pessoas tenham liberdade de se assumir sem peso ou vergonha quando sentirem ser o momento, mas para que pessoas fora da comunidade LGBTQIA+ possam ser aliados dessa causa que afeta diretamente a vida de tantas pessoas.


-Por Celi Mitidieri


Fontes:

1- https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/relacao-homossexual-e-crime-em-70-paises-mostra-relatorio-mundial.shtml

 
 
 

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