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O amor e o proibido

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 17 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura

Romeu e Julieta - O Beijo - Francesco Hayez

“Dos fatais ventres desses dois inimigos nasce, com má estrela, um par de amantes.” Romeu e Julieta – William Shakespeare

Nesse prólogo da obra Romeu e Julieta, do escritor inglês William Shakespeare, é facilmente perceptível, àqueles com o olhar atento, a tendência romântica da obra e a forma como será conduzida a narrativa. Na cidade de Verona, palco de grandes conflitos entre as duas famílias que protagonizam a obra, os Capuleto e os Montecchio guardam pesados ressentimentos uns dos outros, um desentendimento antigo que, apesar de não lembrado, não é esquecido. Nascido da família Montecchio, Romeu, em um baile de máscaras, conhece Julieta Capuleto, filha única da família rival, e se apaixona perdidamente por ela, aí nasce o amor proibido, início de inúmeras tragédias que permeiam a obra.

Fora da obra de Shakespeare, mas não por muito distante, é possível perceber o mesmo padrão, o proibido fascina, do mais puro ao mais transgressor dos homens. Tolstoi, Flaubert, Eça de Queiroz, seus romances são permeados com esse amor proibido, pessoas que já estão engajadas mas mesmo assim trespassam a barreira do casamente e procuram a satisfação com outro que não seus conjugues. Anna Karenina, madame Bovary, Luiza, essas heroínas transviadas pagaram caro e foram sufocadas por suas sociedades, muitos, na vida real e na literária, pagam com suas vidas por isso.

Nos dias atuais há diversas proibições que, frequentemente por jovens, são burladas, tudo pela permanência dessa sensação de adrenalina que o perigo de ser pego proporciona. Contudo, independentemente de idade ou sexo, o ser humano vive contrariando normas sócias, e, muitas dessas infringências poderiam ser punidas por sanções sociais, espontâneas ou não. Isso já foi muito estudado por diversas áreas do conhecimento, de Durkheim até Adorno. Uma amostra dessa paixão pelo proibido se reflete muito bem na arte, que desde sempre desafiou a censura e as convenções sociais, políticas e religiosas que regem a vida em comunidade. É a partir da análise de transgressões e tabus que podemos questionar e repensar os valores simbólicos da sociedade.

“Toda obra de arte é um crime não cometido” Theodor Adorno

Por que será que amores que enfrentam obstáculos fascinam tanto? Romeu e Julieta foi escrito no final do século XVI, mas o sentimento de Romeu por Julieta ainda representa amor verdadeiro até hoje, o sentimento de alguém que desafiaria a morte pela amada. Mas será que era amor ou era uma paixão temperada pelo pecado de amar a inimiga? Se romeu e julieta não tivessem perecido ao veneno e a adaga, será que comemorariam bodas com o mesmo afã de sua jovialidade ou será que o sentimento se perderia no tempo, pelo perigo ter se esvaído? A paixão dos amantes nas obras que seguem essa premissa literária é representada pela derrota de Eros, deus grego do amor, por Tânatos, personificação grega da morte. O amor de amantes shakespearianos são eternizados pela morte, porque talvez não durasse se se deixasse transcorrer o tempo normal das relações. Será mesmo que amar vai além da eternidade? Não sei, não posso responder habilmente essa pergunta. No entanto, eu poderia aconselhar a não olhar esse romance como guia para relações; até porquê, ele pode facilmente ser trágico sem que alguém precise morrer.

São os desejos reprimidos que levam o sujeito a transpor condutas sociais e seus próprios limites. Essas restrições, na maioria dos casos, acontecem para que se obtenha a aprovação do olhar do outro ou aceitação em um determinado grupo. Existem regras para tudo. Com ou sem consciência, todos nós as burlamos por prazer próprio. Um exemplo disso é contado a nós, de sociedades cristãs, desde muito pequenos, afinal, quem não conhece a história de Adão e Eva e a simbologia da maçã. Causadora da discórdia, maçã e mal, em latim, são a mesma palavra: malum. Na cultura cristã, o fruto metaforiza a tentação e é a herança do pecado da civilização ocidental. A partir do século XIII, a maçã tornou-se a principal representação de transgressão, por ter causado a expulsão de Adão e Eva do paraíso. A ingestão do fruto possibilitou ao homem atingir o conhecimento através do livre arbítrio.

Merlim ensinava a seus discípulos embaixo de uma macieira, Newton formulou a teoria da gravidade em razão de uma maçã ter caído em sua cabeça. A fruta está presente em nossas vidas por ser uma representação do adverso, do perigo, do não recomendado mas do sempre aceito, nos contos dos irmãos Grimm, a Branca-de-Neve é envenenada com uma maçã, na mitologia grega, quando a deusa Eris, que não é convidada para uma festa noOlimpo, envia uma maçã “para a deusa mais bela” há discórdia entre as três deusas: Afrodite, Hera e Atena. Além dessas e outras histórias não há como negar que a maçã está muitíssimo presente em nossas vidas, ora, quem não conhece a Apple?

Todos nós temos nossas próprias maçãs, mas quantos de nós a mordemos? O quanto o sabor agridoce do perigo nos afeta? O quanto adoça nossos relacionamentos e quantos desses sobreviveriam sem esse tempero?

“Sem o proibido, tudo seria um caos, e se tudo fosse proibido, também seria um caos.” -Platão- Por: Gabriel Tôrres Referências Bibliográficas https://amenteemaravilhosa.com.br/efeito-fruto-proibido/ • Romeu e Julieta: amor proibido muito antes da sofrência | Coluna 'Prazer, Valderez' https://www.culturagenial.com/romeu-e-julieta-de-william-shakespeare/ http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/Ecletica 35 3%C2%AA materia.pdf https://www.coladaweb.com/resumos/inocencia-visconde-de-taunay

 
 
 

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