Conflitos Internacionais: Israel x Palestina
- Pugna!
- 29 de abr. de 2020
- 6 min de leitura

O assunto de hoje é um dos conflitos internacionais mais importantes da atualidade: Israel x Palestina. Vamos entender as raízes dessa briga, os outros países envolvidos, como Israel tomou essa posição de gigante e a situação da Palestina no meio de tantas confusões. Para mergulhar nesse assunto, recorreremos ao famoso ramo da Geografia conhecido como geopolítica -amado por uns, odiado por outros, mas, independentemente do seu posicionamento, é de extrema importância para entender vários acontecimentos. A geopolítica busca analisar os fatos atuais e o desenvolvimento dos países, através de suas relações estratégicas na política, economia e na diplomacia com outras nações; é exatamente isso que veremos nesse artigo.
Para situar quem ainda está um pouco perdido, Israel é um país do Oriente Médio localizado às margens do Mar Mediterrâneo que é muito conhecido por ser considerado a “Terra Santa” dos judeus, cristãos e muçulmanos. Já começou a entender essa tensão religiosa? Pode prestar atenção pois ela é bem importante no desenvolvimento dessa história. Já a Palestina, não é propriamente um Estado consolidado e reconhecido por todas as outras nações - outra questão à qual temos de nos atentar. Porém, podemos citar que o povo palestino concentra sua presença nos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Inclusive, falando na famosa Faixa de Gaza, a pobreza e a violência que assolam essa localidade e das quais ouvimos tanto falar são produtos desse conflito israelense-palestino.
Agora vamos voltar um pouco no tempo para entender a formação territorial dessa localidade e suas importantes características étnicas e religiosas, as quais são fundamentais para entender a configuração atual dos acontecimentos. Ao longo de milhares de anos, essa foi uma região ocupada por diversos povos -como babilônios, sírios, hebreus, egípcios, etc.-, além de ser conhecida como o berço das religiões cristã, judaica e islâmicas -as com maior influência e números de seguidores até hoje. Diante desse cenário bastante diverso, ao longo dos anos houve uma grande oscilação relacionada aos limites territoriais e políticos desses diferentes povos que habitavam a localidade. Ou seja, de maneira geral e mais simplificada, ora houve o controle islâmico da região, ora houve o controle judaico. É por esse motivo que ouvimos falar dos movimentos de diáspora -muito citados nos livros religiosos, por exemplo- que se caracterizam pelo deslocamento forçado de um povo de seu território pela necessidade de formação de seu próprio Estado-nação com os seus princípios. Nesse contexto nasceu o sionismo, o qual é um movimento político que defende a necessidade de um Estado judaico -para garantir a realização das práticas judaicas e o seguimento de seus princípios livremente- e decisivo na motivação dos diversos conflitos ocorridos nessa localidade do Oriente Médio.
Em 1922, a partir da criação da Liga das Nações -órgão fundado após o fim da Primeira Guerra Mundial para a manutenção da paz-, foi estabelecido o Mandato Palestino Britânico. Naquele período, com a fim do Império Otomano (1917), a Palestina passou, portanto, a ser administrada pela Inglaterra e por outras nações, como a França, que possuíam alguns territórios na região. Mas essa divisão territorial não respeitava as diferenças religiosas regionais, visto que em sua maioria a população da Palestina era islâmica, porém uma de suas principais cidades, Jerusalém, tinha maioria judaica. Logo, assim como o movimento sionista, as tensões começaram a aumentar cada vez mais. Então, anos depois, em 1947, a ONU elaborou uma resolução para essas questões e decidiu criar o Estado de Israel, o qual foi consolidado em 1948 com o apoio de países muito influentes, com Estados Unidos, Inglaterra e França. É nesse momento que as tensões começam a se estabelecer com mais força e o conflito toma maiores proporções.
A criação de Israel só aumentou as tensões e trouxe outras motivações para o conflito, como a questão do controle hídrico na região. O Estado de Israel, por conta de questões climáticas e geográficas, em algumas épocas do ano sofre com estações muito secas e, no geral, há pouco acesso à água, assim como a região desértica da Jordânia. Então, o controle das fontes de água, como o Rio Jordão, a região do Sinai e as Colinas de Golã, era mais um motivo para brigas -muitas dessas fontes de água são salgadas, como o Mar Morto de da Galileia, mas a tecnologia de dessalinização é muita usada na região. Como resultado, a delimitação territorial acabou satisfazendo mais aos interesses israelenses e contrariando os palestinos.
Com o Estado israelense já estabelecido, em 1956, ocorreu a Guerra de Suez entre Israel e o Egito motivada pelas diferenças culturais dessas duas nações, mas principalmente pelo controle do Canal de Suez, o qual é uma passagem bastante estratégica do ponto de vista geográfico e comercial. Como o líder egípcio tinha nacionalizado o controle do canal e tomado a Península do Sinai, Israel, que queria expandir seu território e tinha um importante acesso ao Mar Vermelho -Porto de Eliat- passando por essa península, não gostou nem um pouco das atitudes egípcias. Como consequência, as tropas israelenses invadem o Egito, mas, com a assinatura de um acordo para evitar que o conflito tomasse maiores proporções, elas se retiraram.
No entanto, em 1967, Israel vou a se manifestar e começa a lutar pela conquista de territórios vizinhos -Colinas de Golã, Península do Sinai e Jordânia-, a chamada Guerra dos Seis Dias, Enquanto isso, a exército israelense mostra a sua força e os palestinos vão perdendo territórios e entrando em situação de crise humanitária -com uma enorme quantidade de refugiados, já que muitos pessoas tiveram que deixar suas casas-, logo, o sentimento nacionalista e de revanchismo contra Israel foi crescendo.
Com o ódio contra Israel crescendo, em 1972, nas Olimpíadas de Munique, a delegação israelense sofre um ataque terrorista como resposta dos islâmicos ao seu expansionismo. No ano seguinte, em 1973, ocorre a Guerra do Yom Kippur, que foi uma tentativa de retomada dos territórios que Israel tinha conquistado. Todavia, Israel mantém seus territórios e estabelece mais uma vez a sua superioridade militar. Como consequência, houve o crescimento do sentimento árabe anti-israelense e da oposição ao Ocidente -já que muitos países, como os EUA, financiavam, por exemplo, o exército de Israel. Nesse contexto, ocorre a famosa crise do petróleo porque os principais países da OPEP se organizam para realizar um boicote ao Ocidente -aumento do preço do petróleo- como retaliação aos conflitos e tomadas de território que estavam acontecendo no Oriente Médio. As tensões, então, cresciam cada vez mais.
Para completar as conquistas, em 1982, Israel invade o sul do Líbano, que abrigava um grande número de membros da OLP -Organização para a Libertação da Palestina. No final dos anos 80, ocorre um movimento da OLP chamado de Intifada (1987) na área da Faixa de Gaza que tenta estabelecer a independência política e reivindica o estabelecimento do território da Palestina. Esse processo aumenta a instabilidade na região, as práticas terroristas e resulta em um grande número de mortes e de refugiados. Então, as partes envolvidas dialogaram e em 1994 foi criada a ANP -Autoridade Nacional Palestina- reconhecida pela ONU e por algumas outras nações como o órgão responsável pela liderança da transferência gradual da anexação dos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza para a Palestina. Porém, algumas questões -como o controle de Jerusalém, o acesso às fontes de recursos hídricos, as práticas terroristas, a situação dos refugiados, etc.- começaram a ser levantadas e serviram de fagulha para um novo clima de tensões e de indecisão que perduram até hoje.
Finalmente, em 2005, a Faixa de Gaza passou a pertencer definitivamente à Palestina e em 2012 a ONU decidiu reconhecer a Palestina como um Estado não-membro da organização -sem direito a voto-, mas nações como os Estados Unidos e Israel não concordam com esse reconhecimento.
Depois de todo esse parâmetro histórico e geográfico desse conflito, é importante entender a dimensão das consequências humanitárias trazidas por ele. A taxa de desemprego em Gaza ultrapassa os 40% – entre os jovens é de 50% –, e 21% de seus habitantes vivem em situação de profunda pobreza. Somente 2018, mais de 295 palestinos foram mortos e 29 mil ficaram feridos em ataques israelenses. Além disso, a população civil não tem fácil acesso a remédios, comida e muitos tiveram suas casas destruídas.
Até onde vai o limite entre expansionismo territorial e a situação humanitária? Até onde vai o desrespeito às diferenças étnicas e religiosas?
-Por Giulia Santana
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