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Desigualdade Social: O Problema da Fome

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 10 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura


Hoje 5,2 milhões de pessoas passam fome no Brasil e 17 pessoas morrem de desnutrição todos os dias no país. A questão da fome é um problema social, político e econômico que faz parte da realidade brasileira há muito tempo e que precisa ser discutido. Recentemente a Netflix lançou o filme espanhol “O Poço”, dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, que traz ótimas reflexões sobre a nossa realidade e, entre elas, é abordada a oposição entre a farta alimentação de uns enquanto outros morrem e matam pela necessidade de comida. A metáfora do filme é estabelecida dentro de um grande poço divido em níveis, os quais são ocupados cada um por duas pessoas. Essas duplas recebem alimento através de uma plataforma que desce do primeiro nível até o último carregando uma mesa farta de comida. No entanto, aqueles que estão mais acima não deixam comida para aqueles que estão nos níveis mais baixos gerando uma luta desumana pela sobrevivência dentro do poço.


“Há três classes de pessoas: os de cima, os de baixo, e os que caem”. Essa marcante frase do filme não é apenas o retrato da ficção representada, mas também do contexto de desigualdade social enraizado na sociedade brasileira. Dessa forma, é importante entender o problema e algumas de suas causas, e assim discutir sobre ele para chegar em sua solução.


A naturalização da fome é algo muito comum e umas das motivações para a falta de combate dela, já que pensamentos equivocados como “a fome é resultado das condições naturais, então não tem como ser resolvida” e “as pessoas só morrem de fome no sertão por conta do clima” interferem na forma das pessoas enxergarem a problemática de maneira ampla. Não, a fome não é resultado das condições naturais; ela vai muito além. É fato que fatores climáticos interferem na agricultura, por exemplo, e consequentemente podem afetar a disponibilidade de alimento. No entanto, vocês conhecem a história do Egito? Umas das maiores e mais desenvolvidas civilizações antigas que foi construída e consolidada em região desértica. Mas, para muitos é mais fácil acreditar que a causa da fome é natural e que não podemos fazer nada para mudá-la. E, mesmo que existam projetos de mudança, esses não são postos em prática da maneira que deveriam, como é o caso da indústria da seca. O sertão nordestino é realmente uma das regiões no Brasil mais afetadas pela desnutrição devido a seu posicionamento geográfico que traz adversidades para a produção alimentícia. Logo, a indústria da seca foi um projeto criado para destinar verbas para a região e, assim, criar condições que resolvessem essa problemática, com a construção de redes de irrigação. Porém, na prática o desvio de verbas inviabilizou o andamento do projeto de forma eficiente.


Em seu livro “Fome, um tema proibido”, o geógrafo Josué de Castro dizem “Querer justificar a fome do mundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as suas verdadeiras raízes.” e inicia uma discussão sobre essas origens. Ele foi um importante ativista na luta pelo combate à fome no Brasil que visitou todas as regiões brasileiras e construiu um estudo importante sobre a relação entre a produção alimentícia e as heranças da colonização. Como conclusão de suas pesquisas, o Josué de Castro deixa claro que a fome é uma questão histórica e iniciada da fase colonial. Tal fase coincide também com o início da concentração fundiária no Brasil que é um dos principais motivos da má distribuição de comida, visto que existem lotes enormes de terra com alta produtividade destinada para exportação, enquanto os pequenos produtores são os reais responsáveis pelo abastecimento interno. Ainda, existem muitas pessoas que nem terra possuem.


Além disso, o desperdício de comida no Brasil é exorbitante: 39 mil toneladas de comida são desperdiçadas no Brasil diariamente. Essa quantidade poderia alimentar aproximadamente 19 milhões de pessoas, mas tem como destino o lixo. Dentre essa taxa de desperdício estão inclusos o descarte doméstico e o feito pelos próprios produtores e redes de supermercados, os quais deixam de aproveitar muitos produtos porque estragam -devido à alta oferta e baixa procura, por exemplo- ou porque não atendem perfeitamente aos critérios mercadológicos. E, do outro lado das moedas, milhões de pessoas passam fome.


Entre 1996 e 2006, houve a redução de 46% na taxa de desnutrição no Brasil. Todavia, também se constatou que 14 milhões de pessoas vivem em condição de insegurança alimentar, ou seja, quando o acesso e a disponibilidade de alimentos são escassos e irregulares e, muitas vezes, a qualidade da alimentação é baixa. É nessa estatística, inclusive, que se observa a chamada “fome oculta”, que não é caracteriza pela falta de refeições, mas sim pela carência de determinados nutrientes no organismo devido à má alimentação.


A Constituição Brasileira de 1988 estabelece que todas as pessoas tem direito à alimentação. No entanto, está claro que isso não acontece e que possui diversas causas. Por isso, este artigo, assim com o filme “O Poço”, deixam essa reflexão para vocês: o que você pode fazer em relação a isso?


-Por Giulia Santana

Sugestões para assistir:

O Poço - Netflix

Leituras Sugeridas:

Geografia da Fome - Josué de Castro

Fome, um tema proibido - Josué de Castro

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