O método sociológico de Émile Durkheim

Émile Durkheim foi um psicólogo, filósofo e sociólogo francês do século XIX, faz parte da tríade de pensadores clássicos da sociologia em conjunto com Karl Marx e Max Weber. Cursou Direito e Economia na Escola Superior de Paris. Tal pensador é considerado fundador da Sociologia como ciência autônoma e estruturada, ou seja, acreditou na criação de uma ciência que fosse capaz de estudar e decifrar a sociedade.  Durkheim foi além das teorias ideais do campo metafisico e procurou formular um método possível de ser praticado, os fatos sociais, para fundamentar a Sociologia. Assim, o sociólogo propôs o afastamento das ideias do senso comum e da tradição para nos desconcertar das opiniões herdadas e compreender as estruturas sociais da sociedade humana. Dessa forma, os sociólogos deveriam ter como objeto de estudo o fato social: maneiras de agir, de pensar e de sentir que são impostas sobre os indivíduos, as quais os obrigam a se adaptarem às regras da sociedade onde vivem. Contudo, nem todas as ações são consideradas fatos sociais, essas devem atender aoscritérios de generalidade, atendem o coletivo, exterioridade, é imposto desde que o indivíduo nasce, cabe a ele através da educação aprender as tradições da sua sociedade, e coercitividade, diz respeito à força e obrigatoriedade do fato social. Além disso, o pensador afirma que a sociedade esta a frente do indivíduo, ou seja, independe da liberdade de escolha e de agir, a força dos padrões e tradições da sociedade afeta o comportamento desse. Nesse cenário, Durkheim também destrinchou o fato social em dois: normal e patológico. O primeiro é comum a toda sociedade, é perceptível em vários indivíduos com poucas divergências. O patológico merece mais atenção dos sociólogos, pois é um acontecimento excepcional para um pequeno grupo social e duram um curto período, no entanto, afeta a chamada coesão social. Destarte, os sociólogos ainda devem se manter à distância da sociedade a ser estuda e imparcial aos fatos, devem deixar de lado seus sentimentos em relação e seus pré-conceitos. A partir disso, retomando o conceito de fato social, o pensador francês indicou dois tipos de sanções para o descumprimento dessas normas impostas pela sociedade, a sanção espontânea, reprovação social com um indivíduo que foge do considerado normal pela sociedade, e a sanção legal, é uma punição para indivíduos que seguem uma conduta fora da lei ou uma infração. Isso pode ser exemplificado com situações como quando uma pessoa é excluída de um grupo social pelas roupas ou pelo estilo. Já a sanção legal, pode ser exemplificada com as multas de trânsito ou a privação da liberdade por julgamento. Com isso, na visão durkheimiana, para manter a coesão social, devem existir dois meios de controle e de consenso da sociedade, designado de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Na solidariedade mecânica estão os grupos pré-capitalistas, visto que levam em consideração as tradições, costumes e religião para passar os ensinamentos e normas sociais. No âmbito da solidariedade orgânica estão as sociedades capitalistas, afloradas pela divisão do trabalho e pela vida acelerada, o qual os indivíduos são interdependentes devido à especialização individual de cada um, como um organismo humano, tornando a consciência coletiva mais fraca. Esse viés da solidariedade orgânica, que predomina no mundo atual, por não ser regulamentado por valores religiosos ou costumes, utilizam das normas, leis e artefatos jurídicos para manter o controle e a harmonia na sociedade, ou seja, o Direito. Em tal sociedade gera um direito contratual, o qual separa os interesses públicos e os privados, e controla as eventuais relações contratuais violadas a uma situação anterior à celebração do contrato, para que as partes possam agir novamente celebrando outros contratos, superando os danos sofridos. Pois nesse meio, devido à forte divisão de trabalho, fazem-se necessários documentos e órgãos jurídicos para manter a cooperação entre diferentes áreas da sociedade. A sanção, nesse caso, deve restituir a cada um o que era seu antes da contratação, limitando-se a reparar os danos sofridos. Já numa solidariedade mecânica, o direito se assume prioritariamente como penal, haja vista que se preocupa em punir os indivíduos que seguem um comportamento destoante da sociedade, ou seja, reprovar os diferentes do padrão. Portanto, em ambos tipos sociais não existe somente o universo do direito penal ou contratual, simplesmente, são esses que predominam.  Além dessas contribuições fundamentais tanto para Sociologia como para o Direito na sua estruturação quando ciência, Durkheim também criou uma análise sobre as sociedades consideradas patológicas, ou seja, com ausência ou falta de normas legais para o funcionamento e para o sucesso da coesão social. Essas sociedades então estariam em estado de anomia ou em anomia social. Segundo o sociólogo em sua obra “A divisão do trabalho social”, “O estado de anomia é impossível onde os órgãos solidários estão em contato suficiente e suficientemente prolongado. Com efeito, ao ser contíguo a todo o momento percebem a necessidade que têm uns dos outros e, por conseguinte, têm um sentimento vivo e contínuo e sua mútua dependência”. Assim, de acordo com o mesmo, devido à mudanças bruscas e repentinas, normas que antes eram consideradas dignas e funcionais, acabam por se tornarem sem fundamento e utilidade. Como consequência, a insatisfação e a frustração desola asociedade, gerando o estado de anomia, descrito pelo sociólogo como falta de clareza, crueldade e desorientação social.  Outra obra e atribuição muito famosa de Durkheim é “ O Suicídio”, a qual aborda o suicídio como fato social, o que, segundo o pensador é “toda morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima.”. Nessa visão, ele descreveu três tipos de suicídio: altruísta, egoísta e anômico. O altruísta é caracterizado pela morte causadaem benefício da sociedade, ou seja, a consciência coletiva está extremamente acima da consciência individual, por exemplo, soldados que morrem em combate. Já o egoísta, diz sobre os indivíduos os quais tiram a própria vida devido à crença de que são inúteis na sociedade e não enxergam motivos para continuar a viver. O anômico, faz referência às sociedades que vivem em situação de anomia social, ou seja, de crise, sendo assim, a população não vê sentido na vida no caos. Émile Durkheim viveu na França durante a Primeira Guerra Mundial e integrou a União Sagrada - movimento político que uniu franceses de todas as tendências, políticas ou religiosas - e tornou-se secretário do Comitê de Estudos e de Documentação sobre a guerra. Contudo, mais tarde em dezembro de 1916, seu filho André       morreu na guerra pela França, fazendo com que o sociólogo Durkheim adentrasse em profunda tristeza, o que pode ter levado a seu repentino falecimento em 1917, deixando uma contribuição enorme para as ciências sociais, obras de vasto conhecimento e conceitos populares e estudos em todo o mundo.

- Por Maria Fernanda Livros de apelo sociológico escritos por Durkheim: ● Elementos de Sociologia (1889) ● A Divisão do Trabalho Social (1893) ● As Regras do Método Sociológico (1895) ● O Suicídio (1897) ● As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) ● Educação e Sociologia (1922 – publicação póstuma) ● Sociologia e Filosofia (1924 – publicação póstuma) ● A Educação Moral (1925 – publicação póstuma) ● O Socialismo (1928 – publicação póstuma)