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Empoderamento Feminino Não Inclui Erotização Infantil

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 24 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Foto: Divulgação

 

Ao longo dos anos, o movimento feminista tem encontrado cada vez mais o espaço que merece e necessita, mesmo que a luta ainda esteja longe de seu fim. Com isso, diálogos sobre a libertação dos corpos femininos de padrões e estereótipos crescem na mídia. Extremamente precisados por todas as mulheres, devem sim estar em pauta. Porém, ao tratar com crianças, esse assunto deve ser tratado com bastante delicadeza. Fora de contexto, a ideia de frases como “meu corpo, minhas regras” serve de justificativa para a alta exposição de forma sexualizada por parte de crianças e pré-adolescentes. A internet é um enorme agravante. Isso NÃO é empoderamento. Na verdade, causa ainda mais a objetificação de nossos corpos e pode trazer traumas que mudarão o rumo de vida dessas garotas.


Crianças tem tido sua infância encurtada cada dia mais, podendo ocasionar num futuro de ansiedade ou depressão, visto que há uma carga emocional extremamente pesada em ser exposta dessa maneira em idade tão precoce (1). Em parte, podemos atribuir isso ao uso desregulado da internet. Ao ter acesso a crianças de mesma idade que são altamente erotizadas, influências perigosas podem ser formadas. Um exemplo nacionalmente conhecido desse problema é Gabriella Abreu Severino, popularmente conhecida como Melody. Seu caso torna-se conhecido quando ela tinha apenas 8 anos, mas já era sexualizada pelo pai, que é também seu empresário (2). A menina nessa idade já fazia shows de Funk, gravava vídeos, e tinha a própria página do Facebook. Ao acusar de erotizá-la, o pai, ou Mc Belinho, argumenta que estão criando essa polêmica por ela cantar funk. Ele chegou inclusive a ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo, com risco de perder a guarda da filha (3). O mais importante nessa questão, porém, é a sua própria saúde mental e a influência que ela tem na vida de outras garotas. Em alguns comentários da internet, na idade de 8 anos, podemos ver quão nociva é sua erotização:

(4)


Esses são apenas alguns dos milhares de comentários que Melody recebe diariamente há anos. Atualmente, a jovem possui 7,9 milhões de seguidores em seu Instagram e está com 14 anos de idade (5). Quantas crianças ela não influencia em suas redes¿ É preciso analisar que a Melody não é um caso isolado, mas apenas um que ganhou maiores proporções. Na verdade, essa exposição torna-se cada vez mais comum na geração Z, nascida depois dos anos 2000.


Contudo, antes mesmo desse problema estourar na mídia com Melody em 2015, Jane Felipe de Souza, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já havia criado em 2002 o termo “pedofilização” (6). O que exatamente ele significa¿ De acordo com a mesma, é “a interessante contradição que existe na nossa sociedade, que ao mesmo tempo em que faz leis para proteger a infância e adolescência, também coloca os corpos infantis dentro da perspectiva de espetacularização desses corpos e da sexualidade”. Ela reclama como exemplo a indústria de lingerie, que reproduz em tamanho infantil sutiãs feitos para mulheres adultas e adicionam bojo para crianças apresentarem seios. Jane também argumenta que ao desenvolver em crianças gestos erotizados, como roupas muito justas, isso contribui muito para sua sexualização na sociedade. Inclusive, eu adicionaria nessa lista o uso de maquiagem e tinta no cabelo, cada vez mais comuns em crianças. Ao falar de seus efeitos futuros, há a preocupação com transtornos alimentares como bulimia ou anorexia, dada uma insatisfação contínua com seus corpos. A violência a si é consequência direta do papel da mídia, ovacionada pela própria sociedade, e traz preocupação. Nas palavras de Jane, “elas estão sendo o tempo todo convocadas a ter um determinado tipo de padrão corporal, um tipo de comportamento que é extremamente violento”.


Analisando de modo mais concreto o efeito que isso tem em crianças, trago a esse texto Miley Cyrus. Conhecida internacionalmente por fazer Hannah Montana, ficou famosa na infância e consequentemente sofreu com a sexualização. Em sua entrevista à Harper’s Bazaar, Miley fala sobre como foi ser uma criança no meio do entretenimento. De acordo com ela, “...quando eu tinha 11 ou 12 anos eu usava aplique, maquiagem, unha falsa e colocava roupas que na maioria das vezes eram homens mais velhos que escolhiam”. Ainda na mesma entrevista, afirmou demorar muitos anos para finalmente entender os resultados que toda aquela pressão causou nela, que com apenas 16 anos posou seminua para a revista Vanity Fair (7).


Finalizo com a preocupação sobre crianças e adolescentes, que estão constantemente em contato com frases com teor libertador, definitivamente uma conquista ao mesmo tempo que uma luta feminista. Porém, noto que este contato não chega de forma contextualizada. Não existe garota de 13 anos com cabeça de adulta, mas sim uma idealização infundada na mente da criança do “ser adulto”, contribuindo no caso feminino para que alcancem o que creem ser “maturidade” em forma de erotização. Além de tudo, a internet é presente de modo a influenciar negativamente esse comportamento, visto que a erotização infantil é muito vendida (e dá muito dinheiro) pela mídia brasileira. Com isso, comentários altamente sexualizados invadem suas redes sociais, causando a objetificação dessas meninas, que muitas vezes não entendem a gravidade do que está sendo dito e as sequelas que a exposição de seus corpos pode trazer. E de repente, comentários carregados de pedofilia são vistos como elogios quando na verdade são o disfarce ideal para o abusador. Falar de modo sexualizado sobre o corpo de uma criança nunca deveria ser recebido como enaltecimento. Felizmente, há um debate crescente sobre os impactos da erotização precoce em grupos feministas, que tem se mobilizado cada vez mais para desconstruir essa noção tóxica do “empoderar-se”.

Fontes:

4- Reprodução / Facebook

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