Freud explica o mundo, mas quem explica Sigmund Freud?
- Pugna!
- 28 de set. de 2020
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Muito se escuta a expressão “só Freud explica”, mas como popularizou-se o nome desse homem e o que ele fez para merecer tamanha estima? Sigmund Freud é considerado o pai da psicanálise, e definitivamente uma figura que marcou o século XX. Nascido em 6 de maio de 1856 onde hoje é a República Tcheca, até então parte do Império Austro-húngaro. Ainda criança, mudou-se para Viena por problemas financeiros na família, lá vivendo a maior parte de sua vida. De família judaica, foi filho de Amalie Nathanson e Jacob Freud. Em 1873 ingressa na faculdade de medicina, iniciando a jornada que nos levaria a conhecer seu nome até o dia de hoje.
Formado aos 26 anos, passou um tempo como clínico geral até começar a estudar de modo mais aprofundado as áreas de psiquiatria e neurologia. Porém, foi em uma de suas visitas a Paris que sua mente foi à loucura com as possibilidades por trás de sua área ao conhecer o famoso hipnólogo e hipnoterapeuta Jean-Martin Charcot. Começa a questionar então as motivações do comportamento humano e mergulha de cabeça no tema do subconsciente. Entretanto, ao perceber que a hipnose não estava lhe dando um resultado tão completo quanto ele acreditava a princípio, começa a experimentar outras abordagens.
Nessas tentativas de experimentação e substituição da hipnose, desenvolve o método de associação livre, que consiste em encorajar pacientes a dizerem o que quer que venha à mente, sem que seja investida muita atenção ao que está sendo dito. Até hoje, é muito usado por profissionais da área. E já em 1896, o termo psicanálise começa a ser utilizado por Freud para descrever seu próprio método e abranger seus diferentes conceitos. A psicanálise é baseada na ideia de que tudo que acontece em nossa mente pode ser explicado pela medicina. Ou seja, memórias, pensamentos, sentimentos, ações, tudo tem uma explicação para existir. E essa explicação pode ser consciente ou inconsciente.
Quatro anos depois, em 1900, já muito envolvido nessas questões, publica seu primeiro livro nomeado A Interpretação dos Sonhos. Apesar de na época não ter sido palco para sucesso, o seu próximo livro Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana, lançado apenas um ano após o primeiro, teve um melhor retorno e lhe rendeu alunos interessados em estudarem com ele. À medida que esse círculo cresce, vislumbra-se um renascimento da psicologia, que é bastante influenciado por Sigmund Feud.
Entretanto, o médico tenta controlar esse movimento e não aceita muito bem visões opostas, chegando inclusive a expulsar membros da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras por possuírem opiniões diversas das suas. Na sociedade, eram discutidos entre membros majoritariamente judeus temas como medicina, literatura, arte, política, filosofia. Todos os participantes do grupo se pronunciavam, por ordem de sorteio. Em 1908, esse círculo já contabilizava 14 membros e muda seu nome para Sociedade Psicanalítica de Viena.
Pulando para 1933, a influência de Freud já era grande o suficiente para que seus livros fossem queimados pelos nazistas em Berlim, na Alemanha. O fato de que o médico era judeu também contribui bastante para a destruição de sua obra onde na época era o território de Hitler. Cinco anos depois, em 1938, os nazistas avançam e invadem a Áustria, onde mora Freud. Dada a sua amizade com Marie Bonaparte, ele e sua filha Anna conseguem fugir para Londres por Paris. Apesar disso, quatro das suas irmãs acabam por ser assassinadas em campos de concentração. Mesmo fugindo do que se tornou território alemão, não consegue escapar da morte, que chega um ano por meio de suicídio assistido já que apresentava um severo câncer que lhe causava dores fortes.
E assim nos deixa essa grande figura, que foi nomeada ao prêmio Nobel em 13 ocasiões, apesar de nunca ter sido reconhecido com a vitória. Freud tem um legado composto por muitas obras, inspirando gerações de profissionais da psicologia e psiquiatria. Sua influência fica ainda mais óbvia quando se percebe que surgiu uma nova categoria na área girando em torno de seus conceitos, o psicanalista. Estes profissionais são formados em psicologia ou psiquiatria, tendo a psicanálise como especialização. Com um lugar insubstituível na história da psicologia, entender seus conceitos básicos é essencial. Alguns deles são inconsciente, sonhos, ego, id, superego, pulsão e complexo de édipo.
Primeiro, o inconsciente é onde se encontram ideias reprimidas por nós ao longo da vida. Essas ideias podem aparecer em forma de sonhos ou alguma outra expressão neurótica. Sonhos são vistos como maneiras de acesso ao inconsciente que devem ser interpretados, pois é um conteúdo que não pode ser revelado facilmente de outro modo. O ego é a parte de nós que entra em contato com a realidade, ajudando-nos a tomar decisões conscientes que contribuem para que nos moldemos ao que encontramos ao nosso redor. Ele não nos permite ser dominados por nossos instintos advindos do id nem pelas demandas que chegam com o superego, funcionando como uma balança. Já o id atua como uma canalização dos nossos desejos inconscientes. Dominado pelo ego, que é responsável por determinar se irá ceder a esses desejos, adiá-los ou inibi-los. A decisão é baseada no contexto de sua realidade e na influência do superego. Este, por sua vez, é construído a partir de influência familiar, através da assimilação de proibições e liberdades. Age de forma a contribuir para o ego no controle dos impulsos provenientes do id, uma forma autoconsciência moral. Porém, há um risco, podendo sofrer de excessos e suprimir o ego. A pulsão está na linha tênue entre o psíquico e o somático. Não se configura como estímulo, visto que não é uma necessidade fisiológica e sim um desejo, consequentemente incansável. Por fim, o complexo de édipo é baseado no entendimento de que, entre os dois e os cinco anos, crianças desenvolvem amor pelo seu familiar de sexo oposto e antipatia por aquele do mesmo sexo. Para que haja uma boa estruturação da personalidade, este embate deve ser solucionado, o que geralmente ocorre aos cinco anos.
A luta para a valorização e a compreensão da saúde mental não começou de agora, como claramente podemos notar ao ler e estudar pessoas como Freud, mas infelizmente até hoje existem aqueles que não enxergam a importância de tal cuidado.
- Por Celi Mitidieri
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