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George Orwell: a mente por trás de grandes distopias e poderosas críticas sociais

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 24 de jul. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 27 de jul. de 2020

"Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado". Referência clássica do repertório cultural de inúmeros vestibulandos, George Orwell foi um dos maiores autores do começo do século XX, entretanto sendo apenas devidamente reconhecido nos tempos atuais, devido a especulações sobre o retorno e instauração de regimes totalitários. Nesse artigo, serão analisadas a vida de Orwell e sua obra.


Eric Arthur Blair, mais conhecido como George Orwell, nasceu no dia 25 de junho de 1903 na cidade de Motihari, na Índia. Seu pai, Richard, era inglês e trabalhava como oficial civil na Índia, enquanto sua mãe, Ida, descendente de franceses, cresceu em Burma. Quando Eric tinha aproximadamente um ano de idade, sua mãe levou ele e sua irmã mais velha, Marjorie, para a Inglaterra. Enquanto algumas fontes afirmam que Richard também foi para a Inglaterra, outras relatam que ele só foi em 1912. De qualquer forma, é inegável que Eric teve pouco contato com seu pai, já que ele passou a frequentar a St Cyprian’s School, um colégio interno em Sussex. No entanto, muito antes de ter uma educação formal, ele já demonstrava uma grande aptidão para a escrita, escrevendo seu primeiro poema aos quatro anos. Posteriormente, ele afirmou: "Como toda criança solitária, eu tinha o hábito de inventar histórias e personagens com quem eu conversava, e acho que desde o começo, minhas ambições literárias eram provenientes da minha solidão".


A pré-adolescência de Eric foi bastante incomum, pois além de ser um dos únicos bolsistas de St Cyprian’s, devido à falta de condições financeiras, ele também tinha um jeito de pensar diferente de seus colegas, o que o tornava excêntrico. Ele percebia a desigualdade entre o tratamento de estudantes ricos e pobres, o que certamente influenciou seu estilo de escrita e senso crítico. Esse período é relatado na dissertação "Such, Such Were the Joys" ("Tamanhas Eram as Alegrias"), publicado sob o pseudônimo George Orwell em 1948. Com seu mérito e inteligência, Eric conseguiu bolsas para cursar o Ensino Médio em duas instituições renomadas; Wellington e Eton. Nessa última, ele foi aluno de Aldous Huxley, autor da distopia "Brave New World" ("Admirável Mundo Novo"), que o ensinou a falar francês fluentemente. Além disso, foi em Eton que Eric publicou seus primeiros textos e artigos.


Infelizmente, a família de Eric não tinha condições para bancar um ensino superior, então ele decidiu seguir os passos do pai e começou a trabalhar no serviço policial indiano na Birmânia (atual Myanmar). Entretanto, ao ver a crueldade com que os ingleses tratavam o povo birmanês, ele se revoltou e resignou do seu posto como superintende. As experiências de Eric enquanto policial e sua insatisfação com a cultura imperialista inspiraram o livro "Burmese Days" ("Dias na Birmânia") e os ensaios "Shooting an Elephant" e "A Hanging".


Ao retornar, ele teve a ideia de viver em bairros pobres e vulneráveis no leste da Inglaterra e na França, entre pessoas necessitadas e marginalizadas, não só por falta de renda, como também para aprender mais sobre desigualdade social, visto que ele pensava que precisava disso para se tornar um escritor completo. Com essas experiências, Eric escreveu "Na Pior em Paris e Londres" e assumiu o pseudônimo George Orwell. O nome foi inspirado pelo Rio Orwell, situado em Suffolk, cidade em que cresceu. Em seguida, ele escreveu "A Clergyman's Daughter" ("A Filha do Reverendo"), a história de uma jovem que sofre um ataque de amnésia, e "Keep the Aspidastra Flying" ("A Flor da Inglaterra"), uma história sobre a sociedade literária inglesa, com foco na crítica do materialismo.



Orwell passou a se declarar socialista, o que fez com que a inteligência britânica o visse como uma ameaça comunista, porém não de forma grave. Nesse contexto, ele escreveu "The Road to Wigan Pier" ("O Caminho Para Wigan Pier"), um livro que criticava os movimentos socialistas da época, argumentando que estes eram muito extremistas e não atendiam devidamente aos interesses das classes desfavorecidas. Em 1936, Orwell foi chamado para reportar a guerra civil espanhola, mas acabou se juntando a um grupo que lutava contra o totalitarismo de Francisco Ferdinando, sendo acusado de traição pelo governo espanhol. Após esses eventos, ele escreveu "Homage to Catalonia" ("Lutando na Espanha"), onde discorreu sobre sua decepção quanto aos regimes comunistas e socialistas. A partir desse momento, Orwell começou a ter crises de saúde e foi diagnosticado com tuberculose.

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, ele passou a trabalhar na British Broadcasting Corporation (BBC) e começou sua curta carreira jornalística. Logo após, ele integrou o jornal Tribune, que era conhecido pela defesa de causas trabalhistas. Em suas reportagens, ele fazia grandes críticas literárias acerca dos poetas e escritores mais famosos da época, como T. S. Eliot. Quando exigiam que ele fosse nacionalista e conservador em seus programas, ele o fazia relutantemente, pois mesmo sendo contra as causas fascistas que os ingleses combatiam, ele não concordava com o modo em que isso era feito.


Em seus últimos anos de vida, Orwell escreveu suas duas obras mais famosas, "1984" e "Animal Farm" ("A Revolução dos Bichos"), que era baseada na Revolução Russa. A história se passa em uma fazenda onde os animais se revoltam contra os humanos que os maltratam para obter sustento. Após conseguirem assassinar esses humanos, eles decidem estabelecer uma democracia em que todos sejam tratados igualmente. Porém, com o passar do tempo, os porcos, que se diziam de inteligência elevada, transformam o ambiente em uma ditadura. Supostamente, os porcos representam Joseph Stalin e Leon Trotsky, que, na opinião de Orwell, teriam deixado as causas pelas quais lutavam de lado ao ascender socialmente. O livro termina com a frase; "Já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco".



A obra fez sucesso e deu riqueza a Orwell, que comprou uma casa na ilha de Jura, onde resolveu escrever "1984". Como na maioria dos outros livros dele, o protagonista de "1984" é uma figura solitária, trabalhadora e reflexiva. Winston Smith trabalha em um dos ministérios da sociedade distópica de Oceania, o Ministério da Verdade, cuja função é forjar documentos e livros do passado para que estes atendam aos interesses do Partido, que comanda a ditadura totalitária estabelecida. Winston conhece Julia, e juntos eles refletem sobre as contradições e injustiças do Partido. O livro tem um quê de aviso e de urgência, mostrando o que aconteceria se os movimentos fascistas continuassem ascendendo.



Orwell me fez refletir, de certa forma, sobre o ditado popular "mente vazia é a oficina do diabo". Seria refletir sobre tudo ao meu redor um perigo? Um caminho sem volta? Bom, isso depende do quanto meus pensamentos diferem dos da vontade geral, o que faz com que a real liberdade de pensamento e expressão seja pressionada e reduzida, nossa tão determinada "sanidade" nos dizendo que, no fundo, divergir dos outros não nos levará a lugar nenhum. É verdade, Winston teve um péssimo fim por pensar diferente, mas não devemos olhar para o fim de modo individual, e sim de forma a refletir sobre o bem universal gerado pela nossa liberdade.


Em 1950, Orwell morreu em Londres lutando contra a tuberculose. Felizmente, seu legado, apesar de às vezes subestimado, não foi esquecido. A certeza de que as obras dele são necessárias é tão grande quanto a do Partido de que 2+2 é 5, e não 4.


Por Ana Ferreira da Motta Costa


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