Marie Curie: a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel
- Pugna!
- 1 de jul. de 2020
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"Eu fui ensinada que o caminho do progresso não é nem rápido, nem fácil". Marie Curie foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e a primeira pessoa a ganhar o prêmio duas vezes, nas categorias Física e Química. Ela foi uma mulher inovadora no campo da ciência e fortemente admirada por cientistas como Albert Einstein. Porém, para chegar a esse lugar, teve que se esforçar e lutar mais do que a maioria dos cientistas de sua época.
Curie nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 1867, sendo a mais nova entre cinco irmãos em uma família de professores. Quando ela tinha dez anos, perdeu a mãe por tuberculose e começou a cuidar de seu pai, que a treinava cientificamente enquanto ela se destacava no ambiente escolar. Ao terminar o ensino médio, Marie não pôde ingressar na Universidade de Varsóvia, que era para homens somente. Com isso, ela ingressou na Universidade Flutuante, uma organização secreta que oferecia educação clandestina para jovens poloneses.
Já que a família de Curie era relativamente pobre, Marie teve que trabalhar como tutora e governanta para bancar, depois de seus estudos na Universidade Flutuante, a educação de sua irmã Bronislawa que, em um acordo, afirmou que quando voltasse de seus estudos em Paris, ajudaria Marie a bancar sua própria educação. Em 1891, Marie finalmente conseguiu estudar em Sorbonne.
Lá, Marie supostamente vivia à base de pão e chá e ficava acordada até tarde da noite estudando, desmaiando por conta disso ocasionalmente. Mesmo assim, ela conquistou diplomas em Matemática e Física com seu esforço. Depois, em 1894, Marie começou a trabalhar no laboratório do físico e futuro ganhador do Nobel Gabriel Lippmann, onde conheceu Pierre Curie, que se tornou seu marido em 1895. Marie e Pierre não tinham só química emocional entre si, mas também uma grande paixão por realizarem pesquisas sobre esse campo juntos.

Em 1896, após o físico francês Henri Becquerel descobriu a radioatividade espontânea, Marie se tornou obcecada por esse fenômeno. Dois anos depois, em sua Teoria da Radioatividade, ela descrevia precisamente o fenômeno da radiação e desenvolveu técnicas para isolar isótopos radioativos.
Mais tarde naquele ano, Becquerel e Pierre foram indicados ao Prêmio Nobel por suas descobertas, mas Marie não. Com isso, Pierre, indignado, escreveu uma carta explicando o quanto a pesquisa de sua esposa era importante e inovadora. Assim, Marie, junto com seu marido e Becquerel, ganhou um Nobel de Física, tornando-a a primeira mulher a ganhar esse prêmio em qualquer categoria.
Infelizmente, o sucesso do casal não durou muito. Em 1906, Pierre morreu após ser atropelado por uma carroça. Mesmo com o sofrimento e luto pela perda daquele que sempre a apoiava, além de ter duas filhas para criar, Marie continuou realizando pesquisas e trabalhos científicos e assumiu o cargo de Pierre de professor na Universidade de Paris, se tornando a primeira professora da instituição. O trabalho dela continuou impressionante e impecável; Marie ganhou outro Nobel, dessa vez em química, pela descoberta do elemento Polônio, que foi nomeado em homenagem à sua terra natal, e do Rádio, que a rendeu várias análises sobre suas propriedades e componentes. Isso fez dela a primeira pessoa a ganhar prêmios Nobel em duas categorias diferentes.

Alguns membros da imprensa francesa não ficaram felizes com o sucesso de Marie e começaram a espalhar notícias sensacionalistas sobre ela, divulgando cartas romântica trocadas entre ela e o físico Paul Langevin, que era casado. Marie foi pintada como uma destruidora de lares e passou a ser desrespeitada por membros da sociedade científica. Entretanto, Albert Einstein, admirador do trabalho dela, a enviou uma carta de apoio durante a Conferência de Solvay, em 1911:

“Muito estimada Sra. Curie,
Não ria de mim por lhe escrever não tendo nada sensível a dizer. Mas estou tão enraivecido pela forma com a qual o público presentemente tem ousado a se interessar por você, que eu absolutamente preciso dar vazão a este sentimento. Contudo, estou convicto de que você despreza consistentemente esta ralé, quer obsequiosamente esbanje respeito por você, quer ela tente saciar seu desejo por sensacionalismo! Eu estou impelido a lhe dizer o quanto vim a admirar seu intelecto, seu ímpeto, e sua honestidade, e que eu me considero sortudo por ter lhe conhecido pessoalmente em Bruxelas. Qualquer um que não se enquadre entre estes répteis está certamente feliz, tanto agora quanto antes, que nós tenhamos entre nós figuras como você, e Langevin também, pessoas reais com quem qualquer um se sente privilegiado por manter contato. Se a ralé continuar a se ocupar com você, então simplesmente não leia esta bobagem, mas sim a deixe para o réptil pelo qual ela foi fabricada.
Com os mais amigáveis cumprimentos a você, Langevin e Perrin,
Atenciosamente,
A. Einstein”

Marie não se cansou e, com o surgimento da Primeira Guerra Mundial, passou a estudar a radiografia, criou unidades radiológicas móveis e investigou os efeitos da radiação em tumores, feito que mudou para sempre o campo de pesquisa médica. Porém, enquanto Marie se importava com o bem da humanidade, ela às vezes deixava o auto-cuidado de lado. Relatos dizem que Marie andava com frascos de material radioativo em seus bolsos, e isso acabou tendo uma consequência fatal.
Marie contraiu leucemia, doença que foi provavelmente agravada pela radiação. Ela morreu no dia 4 de julho de 1934, com 66 anos, em um sanatório na França. O legado de Marie é, muitas vezes, subestimado, e esse cenário deve mudar. Curie lutou contra o machismo, o sensacionalismo, as fake news, dificuldades financeiras e a perda de um amado, mas mesmo assim continuou a trabalhar com o que amava. Ela é um símbolo da luta das mulheres pela educação e realização profissional, além de representar o amor; amor por quem tocasse seu coração, seja isso a química, Pierre, ou Paul Langevin.
Por Ana Ferreira da Motta Costa
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