top of page
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon

Minimalismo: faça mais com menos

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 10 de ago. de 2020
  • 5 min de leitura

Quase que semanalmente, compramos coisas as quais não precisamos, geralmente porque está na moda ou achamos bonito. Estamos em constante busca pelo próximo produto a ser comprado, sem nos perguntar o que aquele produto pode trazer para nossas vidas que seja realmente útil e, o mais importante, que seja necessário. As pessoas tentam e falham de forma cíclica numa ideia tóxica de preencher o vazio em suas vidas por meio do consumo. Infelizmente, isso não é realista, e muito menos sustentável. É neste contexto que Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus iniciaram um estilo de vida chamado minimalismo.


O minimalismo prioriza a qualidade em vez de quantidade. Seguindo os princípios minimalistas, vivemos com o mínimo possível. E não, isso não significa se desfazer de suas preciosas coleções ou de qualquer coisa que tenha valor pessoal, mas apenas daquilo que temos apenas daquelas posses pelo prazer, ou pelo status, de tê-las sem qualquer uso prático em nossas vidas. Por meio do minimalismo, fazemos mais com menos. Isso porque mesmo que alguém só tenha sete camisetas, por exemplo, essas são suas camisetas favoritas no mundo. Antes de comprar qualquer material, perguntamo-nos: isto agrega valor à minha vida? Se a resposta for não, provavelmente não deve comprar. Infelizmente, muitas pessoas ainda estão longe de atingir esse nível de desligamento de seus pertences pessoais, mas é importante entender que isso é um processo. Ninguém acorda uma manhã e decide doar metade de suas coisas. Precisamos estar dispostos a deixar as coisas irem, mas não precisa ser da noite para o dia.


Entender o ciclo de consumo em que vivemos é difícil, principalmente quando poder comprar um produto caro é visto como realizar nossos sonhos, um sinônimo de sucesso nos dias modernos. Ao longo do tempo, a nossa ideia de “vencer na vida” foi distorcida em termos materiais. O objetivo agora é ser rico. Afinal, é isso que vemos na televisão, seja em novelas, reality shows, séries ou filmes. E o que é melhor prova de riqueza do que ter coisas caras? Então, quando as pessoas conseguem algum dinheiro, a primeira coisa que fazem é ir às compras. Os bens materiais tornam-se importantes não por causa de seu uso ou importância pessoal, mas por causa do status que os acompanha. Nossa identidade, então, não é definida pelo que fazemos, mas pelo que possuímos. Uma reversão completa de valores. E mesmo quando atingimos essa meta, quando finalmente estamos alinhados com a expectativa de riqueza que só se pode sonhar, o status de nossos produtos tem prazo de validade, e geralmente não é muito distante.


Algumas décadas atrás, as pessoas tinham quatro temporadas no mundo da moda, talvez apenas duas se considerarmos apenas os tempos quente e o frio. Agora, algumas empresas têm 52 temporadas, uma para cada semana do ano (1). Há uma tentativa na indústria de que compremos cada vez mais. Por isso, as peças da semana anterior já não nos entregam o resultado que esperamos, o status que poucos dias atrás acompanhava. Antes que percebamos, estamos fora de moda e lá vamos nós de novo comprar roupas que não precisamos. Isso é verdade não apenas nesta indústria, mas em muitas outras. Tomando por exemplo um iPhone, cada vez que chega uma nova versão ao mercado, por menores que sejam as diferenças, a última é considerada desatualizada e vamos nós de novo comprar celulares que não precisamos. Muitas vezes, essas compras são feitas com um dinheiro muito suado, que poderia ser utilizado para coisas mais úteis e que fossem realmente agregar de alguma forma. Talvez uma viagem, investir em um curso, uma doação a uma ONG. Quando entendemos que não precisamos de algumas coisas, sentimo-nos mais livres para gastar no que realmente traz leveza e felicidade. A desconstrução do nosso pensamento de que devemos comprar um item só porque temos dinheiro é necessária, porque aquela compra não envolve somente dinheiro, um produto acompanha muito mais.


Voltando ao mundo da moda, por exemplo, como é possível que empresas sustentem um mercado com 52 temporadas? Essas peças têm que ser mais baratas e também devem ser produzidas em massa. Assim, muitas marcas infelizmente aderem ao trabalho escravo, no objetivo de maximizar seus lucros. Segundo pesquisa da fundação Walk Free, The Global Slavery Index 2018, a moda é o segundo ramo que mais explora mão-de-obra escrava no mundo, perdendo apenas para o setor tecnológico (2). O que facilita essas práticas é a terceirização, quando grandes empresas contratam fábricas em países em desenvolvimento para a produção de seus produtos, pagando um preço muito menor do que o valor que será cobrado na loja. No estudo de Karl Marx, a chamada mais-valia, que é justamente a diferença entre o salário dos operários e o preço final do produto. Ou seja, mesmo que o produto seja valioso, essa riqueza não chega ao trabalhador, apenas ao seu patrão (3). A mais-valia contribui para a perpetuação de sistemas análogos à escravidão no mundo da moda, enriquecendo grandes empresas às custas de trabalhadores sem direitos e com muitas horas de serviço. Porém, nós como consumidores temos um grande papel nessa luta. Afinal, essas marcas não existem sem que compremos seus produtos. Ações para dar mais transparência e informação aos clientes já surgem. Por exemplo, o Moda Livre, que possui um aplicativo que avalia muitas marcas da moda no combate ao trabalho escravo. Lá encontram-se avaliações de nomes como Animale, Americanas, C&A, Marisa e Adidas (4).


Mas o que nos leva a comprar dessas marcas em primeiro lugar? Nossos padrões de consumo são criados pelo poder da propaganda, a maior arma que uma empresa pode ter. É por meio de boas técnicas de propaganda que um cliente se convence de que precisa ter um produto que provavelmente nunca usará em toda a sua vida, ou talvez uma vez, apenas para sentir que realmente o usou e não foi uma total perda de recursos e dinheiro. Isso é particularmente problemático para crianças, que se tornaram um forte mercado. Não muito tempo atrás, produtos tinham que passar primeiramente pelos pais. Agora, com o desenvolvimento da televisão, de redes como o YouTube e o Instagram, ficou mais fácil introduzir conteúdos especialmente para esse público, que se utiliza de celulares e tablets numa idade cada vez menor. É chocante quando descobrimos que em 1983, empresas gastaram cerca de 100 milhões de dólares em propagandas infantis, mas já em 2006 esse número sobe para 17 bilhões (5). Crescemos com ideais consumistas, querendo mais de forma insaciável sem perceber que todas aquelas coisas, quando compradas sem valor, não nos trarão nada que mais um trambolho para guardar em casa. Jogamos nossos bens fora sem pensar duas vezes, sem valorizar os recursos que foram necessários para que aquele produto chegasse em nossas mãos, e também sem parar para descobrir aonde aquele lixo vai, imaginando que no momento que o jogamos fora ele desaparece da face da Terra. Até quando?


Nosso modelo de produção é insustentável, mas não é somente esse o problema. Ele nos torna mais pesados, atrasa-nos, impede-nos de seguir um caminho mais livre, com escolhas mais conscientes. Paramos de nos apegar a bens materiais, e entregamos esse amor a nós mesmos. Não precisamos de três produtos com a mesma função, mas de apenas um. Livremo-nos da tóxica duplicidade. Tenhamos apenas o que nos agrega como indivíduos, pois isso é libertador. Livremo-nos de posses desnecessárias. Como nos ensina esse estilo de vida, “os minimalistas buscam a felicidade não pelas coisas, mas pela própria vida; portanto, cabe a você determinar o que é necessário e o que é supérfluo em sua vida” (6). Busque em si o que soma à sua existência, não o que a sociedade tenta te convencer de que você precisa. Deixe que cada um dos seus pertences seja uma extensão do que você quer ser e levar para a sua vida.


- Por Celi Mitidieri


Fontes

5. Documentário Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes

Comments


bottom of page