Monogamia e traição: a família tradicional é tão boa que às vezes temos duas
- Pugna!
- 10 de dez. de 2020
- 4 min de leitura

Do momento em que nascemos ao dia de nossa morte, somos bombardeados com imagens do ideal, sobre ética, moral, o “comportamento devido de uma moça direita” e até a forma ideal de se relacionar romanticamente com alguém. Somos expostos às pressões sociais, que secam a natureza humana tal qual o sol seca as roupas expostas no varal, todo o fluido de natureza é evaporado pelo sol do fato social durkheimiano (melhor explicado em outro artigo do Pugna) o imaginário de que só seremos felizes com um único e verdadeiro amor aos moldes da Disney.
É possível que se perguntem sobre a “problematização desnecessária” desse assunto tão usual e tão comum em nossas vidas, a esse leitor masoquista que continua lendo um “artigo desnecessário” eu pergunto: seria mesmo tudo que é normal detentor do direito de não ser analisado e criticado? O que é normal se não um conceito estranho? Há algumas poucas décadas era normal as mulheres terem menos direitos, pois eram consideradas biologicamente inferiores; era normal que se praticassem comportamentos que hoje são olhados com repulsa, como manter um trabalhador em regime análogo a escravidão. A minha segunda motivação para esse artigo é o comportamento contraditório do ser humano, insistindo em seguir o extremo oposto a sua natureza. Se a monogamia fosse algo tão natural assim, por que seríamos tão ruins nela? Programas de televisão cuja única programação é a investigação de fidelidade, brigas de casal e eventuais términos em rede nacional são cada vez mais comuns e assistidos.
A busca pela monogamia e seu fracasso causam tanta dor e sofrimento, por que continuamos a procurá-la? No presente artigo não busco e nem buscarei nunca convencer o leitor a abandonar suas concepções de relacionamento, a monogamia pode ser mantida e a felicidade de um casal pode ser alcançada através dela. O questionamento, e é isso que sempre busco com meus artigos, fazer questionar, é: se é tão difícil manter um relacionamento monogâmico por que o tentar em tão grandes proporções.
Monogamia e amor não são a mesma coisa, somos obcecados em pensar o contrário, que um não existe sem o outro. Ocorre que amor é um sentimento, tão lindo quanto raro, mas monogamia é uma regra, tão estrita quanto frequentemente burlada. A concepção monogâmica é tal que influenciou e influencia na lei de diversos países até hoje. No Brasil, adultério era crime punível por lei até 2005, quando foi revogado pela lei nº 11.106, a redação anterior assim dizia: Cometer adultério: Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses.
Seres humanos tem impulsos ambivalentes, é uma experiência incrível ter alguém para contar com, um confidente, mas ao mesmo tempo somos tentados pelo novo.

A traição pode ser, na verdade, uma tendência biológica. Uma das frases mais associadas à evolução é “a sobrevivência dos mais apto”, mas tão importante quanto aptidão é a seleção sexual, a escolha que machos e fêmeas fazem quando vão se reproduzir, o indivíduo que mais se reproduz é, de fato, alguém mais biologicamente bem sucedido.
Pode-se olhar os seres mais geneticamente próximos dos seres humanos, os chimpanzés, que não formam casais fixos, nos gorilas, o macho dominante forma literalmente um harém. Mais distante dos hominidae, os leões dominantes de seu bando tem todas as fêmeas, o ser humano, por sua vez, em sua insistência pela monogamia, são mais parecidos com a sociedade das aves, que formam casais que duram suas vidas inteiras. Acontece, que mesmo as aves formando casais pela vida toda não se fala em fidelidade mesmo entre elas, pois muitos testes de DNA feitos em laboratório tem mostrado que elas não são fieis, apenas traem muito bem.
Nas sociedades modernas não é muito melhor, há muitos casos de paternidade discordante em meio a tantos nascimentos, mais especificamente, dependendo da região e da população amostrada entre 0.8 e 30% dos nascimentos são de filhos discordantes. Ou seja, no mínimo uma em cada 100 crianças não é filho biológico de quem se acha o pai.
(Um adendo importante, relações familiares vão muito além da biologia, a pessoa que sempre esteve ao seu lado cuidando de você não tem e nem deve perder significado só porque não cedeu metade de seus genes ao filho não-biológico)
Por fim, gostaria de terminar esse artigo com uma fala do David Barash, autor de “O mito da monogamia” que diz que: “apesar da monogamia fiel não ser algo natural, seres humanos são únicos no reino animal, na medida em que conseguimos fazer coisas que não são naturais” monogamia é difícil, mas não impossível se houver dedicação do casal. Em vias de concluir o presente artigo, vale ressaltar que o fato de trair ser algo comum na natureza não é uma justificativa para tal e nem machuca menos quem é traído. Sejamos todos honestos e façamos um mundo mais harmônico para se viver.
-Por um escritor crítico do não questionar: Gabriel Tôrres Referências Bibliográficas • Série Netflix: explicando – episódio: monogamia • https://www.abracrim.adv.br/noticias/o-crime-de-adulterio-revogado-trata-se-de-injuria-gravissima • Traição é natural? – Nerdologia • Tirinhas – um sábado qualquer
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