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Movimento #Exposed e Seus Impactos

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 3 de jun. de 2020
  • 5 min de leitura

Nas redes sociais existe muita circulação de informações falsas, discursos de ódio, pessoas com intenções ruins, entre vários outros defeitos, no entanto, é inegável o seu poder de alcance quando se trata do ciberativismo -mobilização de causas políticas, ambientais e sociais através da internet. A oportunidade que as pessoas têm de dar voz às situações que são silenciadas no dia a dia ou às situações às quais não damos a devida atenção é enorme. Dentro dessa possibilidade de levantar questões importantes, surgiu o movimento #Exposed. Tal manifestação ocorreu principalmente no Twitter e teve como finalidade permitir que meninas e mulheres, vítimas de algum tipo de abuso ou importunação sexual, pudessem compartilhar relatos sobre os acontecidos. A hashtag era associada à cidade das jovens e teve destaque em São Paulo, Joinville, Aracaju, Londrina e Curitiba, chegando aos trending topics -assuntos mais falados- da rede. A proporção que o movimento tomou foi impressionante, fato que é, ao mesmo tempo, preocupante e bom. Preocupante porque, a partir da análise de tantos relatos, foi possível perceber que as situações de estupro, divulgação de nudes, relacionamentos abusivos, casos de pedofilia e importunação em festas sofridas pelas mulheres são frequentes. São histórias que se repetem: o professor de dança que usa a profissão para se aproveitar de jovens, o homem da balada que fica insistindo para “ganhar um beijo”, o tio que te toca de um jeito estranho, a importunação sofrida no ônibus… Porém, como eu disse, existe um lado positivo e ele precisa ser discutido. 


Primeiramente, é importante estabelecer a diferença entre assédio e importunação sexual, visto que são termos muitas vezes usado como sinônimos, mas, no âmbito legal, apresentam suas diferenças e especificidades. O assédio sexual somente é caracterizado quando há uma relação de hierarquia entre a vítima e o agressor, como em um ambiente de trabalho, por exemplo. Esse ato é estabelecido como crime pelo artigo 216 do Código Penal e a pena pode variar entre 1 e 2 anos de prisão. Já a importunação sexual, caracteriza-se por qualquer ato libidinoso sem consentimento da vítima. Esse é um crime enquadrado pela Lei n°13.718/2018 e a punição varia entre 1 e 5 anos de prisão. Quando ocorre algum ato violento ou é feita uma ameaça por parte do agressor para concretizar algum desses atos, tal situação é considerada um estupro e a pena pode variar de 6 a 10 anos de reclusão para o criminoso, aumentando para 8 a 12 anos se há lesão corporal da vítima ou se a vítima possui entre 14 a 18 anos de idade.


Agora que a parte teórica já foi bem esclarecida, vamos a alguns dados sobre o assunto para que possamos entender a gravidade da situação que o Brasil se encontra. Segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha, quatro em cada dez brasileiras (42%) já sofreram assédio sexual no Brasil e, se especificarmos os casos ocorridos com adolescentes e jovens, o número de 56%. Ou seja, quanto mais novas a brasileira, maior é a probabilidade de ela sofrer violência sexual. Indo além, a cada 5 minutos uma mulher é agredida no Brasil (Mapa da Violência 2012 – Homicídio de Mulheres). Para completar essas informações assustadoras, em 2018, o Brasil registrou mais de 66 mil casos de estupro, o que equivale a 180 estupros por dia no país. Revoltante! Não são apenas números, são mulheres que passaram por traumas inimagináveis. São jovens que têm receio de andar na rua. É a prova de que vamos além de uma sociedade com base machista, chegamos a um ponto que envolve falta de humanidade. E, já de antemão, quero deixar claro que pensamentos como “Não faça isso porque você não gostaria que fosse com sua mãe e com sua irmã” por parte de homens não tornam a situação melhor. As mulheres devem ser respeitadas porque são seres humanos iguais aos homens. Se você espetar um homem e uma mulher com uma agulha, ambos vão sangrar, simplesmente porque ambos são pessoas, são seres humanos. Uma diferença na genitália não significa inferioridade ou superioridade. São apenas diferenças, assim como temos tipos diferentes de cabelo, altura, cor de pele, entre outros.


Visto tudo isso, fica clara a tamanha importância desse movimento: protestar, mostrar indignação, deixar claro que as mulheres têm espaço, clamar pelo respeito. O #Exposed possibilitou que muitas meninas enfrentassem seus traumas e retirassem as amarras que as prendiam quando o assunto era abuso sexual. Além disso, a onda de sororidade que se espalhou foi especial: mulheres se apoiando e lutando juntas contra a violência sexual e contra os estigmas tradicionais da sociedade que dizem para elas se calarem e que as colocam como culpadas pelas agressões. Com essa mobilização, ficou mais do que claro que a vítima nunca é a culpada, que a união alcança significativas mudanças e que devemos usar nossas redes sociais para levantar essas reflexões e melhorar nossa realidade. A partir dos posts publicados no Twitter, muitos agressores foram oficialmente denunciados e a busca por justiça continua. Eu, como jovem criada numa sociedade altamente machista, tenho orgulho desse movimento e da força de cada mulher que se posicionou. Eu, como jovem que não aceita ficar calada diante de frases como “Isso não é assunto para uma mocinha”, digo que mais do que nunca a voz das mulheres está ecoando por todos os lugares e, apesar de incomodar muita gente, vamos mudar o mundo a nossa volta.  


Assim como essa campanha do #Exposed, outros movimentos de ciberativismo em prol do direito das mulheres já tomaram grandes proporções como o “Não É Não” e “MeuExAbusivo”. Mas, como fator comum, todos mostram a importância de denunciar esses casos e de sermos respeitadas. Em relação às denúncias, elas podem ser realizadas pelo Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência) ou pelo e-mail ligue180@spm.gov.br. Já o Disque 100 é um telefone para denúncia de casos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Ademais, existem diversos aplicativos e redes de apoio e proteção às mulheres, como o aplicativo PenhaS -denúncia de violência doméstica-, a organização Think Olga, a cartilha do Namoro Legal -para as jovens saberem como identificar e um relacionamento abusivo-, entre outras ferramentas. Vale ressaltar ainda que as denúncias devem sempre ser incentivadas, mas, quando tornadas públicas, algumas medidas devem ser tomadas para que as vítimas não sejam processadas por calúnia, injúria ou difamação. No caso da exposição de prints de conversas e qualquer outra prova que inclua a identificação do agressor é ilícita. Então, podem ser feitos depoimentos e a busca por ajuda é essencial, mas é crucial que alguns cuidados sejam tomados, como evitar detalhar local ou características que permitam a identificação do agressor, não atribuir a característica de crime, somente descrever a violência, e não promover linchamento virtual ou o ódio, que podem trazer outros problemas para o caso.


Para finalizar, quero lembrar que essa busca por direitos, igualdade, respeito e voz não é recente. Nós mulheres lutamos por toda a história para conquistar nosso espaço e nossos direitos. Apesar de ainda ter muita luta pela frente, nós já somos muito vitoriosas e não podemos desistir. A desconstrução de pensamentos machistas, a busca por oportunidades e a redução das disparidades são batalhas diárias. “Fala-se muito em feminismo como se essa simples oposição com o machismo resolvesse todos os nossos problemas. […] Também é preciso ver o movimento feminista de modo mais profundo, como reflexão, como pensamento, como desconstrução das injustiças da sociedade.” – Marcia Tibu


Por Giulia Santana


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