Mulher, negra, empreendedora e revolucionária!
- Pugna!
- 25 de mar. de 2020
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Madam C. J. Walker: negra, filha de ex-escravos, americana nascida em meados do século XIX. Mandaram-na para ficar calada. Disseram-na que a função dela era lavar roupas pelo resto da vida. Falaram-na que uma mulher negra não tinha espaço na sociedade. O que ela fez? Não ficou calada, criou produtos para cabelos cacheados e crespos e saiu das sombras para buscar seu espaço na sociedade. Hoje Sarah Breedlove é reconhecida como uma das precursoras do empreendedorismo feminino e é considerada a primeira mulher a tornar-se milionária por conta própria nos Estados Unidos.
Para compreendermos o peso da luta dessa grande mulher, é necessário entender a configuração histórica dos Estados Unidos na época. Em 1863, o presidente Abraham Lincoln assinou o fim da escravidão nos Estados Unidos. No entanto, o Ato de Emancipação não determinou o fim das questões raciais no país, as quais tiveram início no período de sua formação. Durante a colonização, o território foi dividido em colônias do Norte* -formada por pequenas propriedades privadas com uso de mão de obra assalariada- e colônias do Sul - formada por grandes propriedades de terra com uso de mão de obra escrava. A partir daí, o arranjo da escravidão nos Estados Unidos foi estabelecido e tal diferença entre Norte e Sul culminou na Guerra Civil Americana (1861-1865) que resultou na vitória dos nortistas e em grandes feitos como a abolição da escravatura. Porém, como citado anteriormente, os negros continuaram a enfrentar desafios, como as políticas segregacionistas. Essas políticas proibiam, por exemplo, a presença de negros em certos locais públicos, como teatros e estações ferroviárias, para que esses não coexistissem com os brancos, o ingresso de negros em algumas universidades e o casamento intra-racial. Além desses princípios, nessa mesma época foi criado o Ku Klux Klan, grupo que praticava violentos ataques e perseguições contra negros.
Em meio a esse cenário complicado, surgiram ativistas muito importantes na luta pelos direitos dos negros americanos, como Martin Luther King Jr. e Rosa Parks. E, em 1867 no estado de Louisiana (região Sul), nasceu Sarah Breedlove, a filha de ex-escravos que revolucionou o papel das mulheres negras em uma sociedade racista, segregada e machista. Por muitos anos, Sarah trabalhou como lavadeira para se sustentar e sustentar a filha -recebendo $1,50 por dia. Diante de muito estresse e dificuldades, ela desenvolveu um problema no couro cabelo que levou à queda de grande parte de seu cabelo. Por esse motivo, ela criou uma pomada caseira para estimular o crescimento do seu cabelo, a qual deu resultados incríveis e tornou-se o seu primeiro produto a ser comercializado. A partir disso, Sarah começou o seu próprio negócio: vendendo sua pomada que inovou a indústria de beleza, já que não eram feitos produtos para mulheres negras. Após enfrentar muitos obstáculos, Madam C. J. Walker abriu um salão de beleza e, posteriormente, uma fábrica para a confecção de sua linha de produtos para cabelos crespos e cacheados. Ao longo de sua trajetória, Walker convocou outras mulheres para trabalhar com seus produtos e concedeu a elas a possibilidade de sair de pobreza e ter uma carreira independente. Como consequência de todo seu trabalho, Madam C. J. Walker abriu outros salões e expandiu sua marca por todo Estados Unidos e em outros países, foi chamada para ir à Casa Branca, juntamente com outros participantes da luta pelos direitos civis dos negros, para debater sobre a questão racial do país, entre outros feitos.
Atualmente as mulheres, principalmente mulheres negras, enfrentam muita discriminação no mercado de trabalho, visto que, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a taxa de desemprego de mulheres negras é de 16,6% enquanto a de homens brancos é de 8,3%. Porém, a luta iniciada por mulheres como Madam C. J. Walker não parou. Exemplo disso é a história de Luanna Teofilo que, apesar de um currículo brilhante, foi demitida de uma empresa de comunicação internacional, na qual trabalha há um tempo, após fazer tranças (box braids) em seu cabelo para simbolizar suas raízes afrodescendentes. Todavia, ela não desanimou e criou o “Painel BAP”, uma plataforma na qual as pessoas participam de pesquisas de mercado online, para conhecer as ideias e demandas das pessoas para criar novas soluções e alcançar novos mercados, e são recompensadas com dinheiro, produtos e serviços fornecidos por afroempreendedores.
A discriminação racial é uma realidade. A desigualdade de gênero está presente no nosso dia a dia. Mas, se o racismo cria uma barreira, ela pode ser quebrada. Ainda, se alguém diz que uma mulher é incapaz de fazer algo apenas pela condição de ser mulher, ela vai lá e faz. É uma luta a ser travada todos os dias e as realizações de mulheres como Sarah Breedlove e Luanna Teofilo não podem ser esquecidas.
*É válido enfatizar que a escravidão não foi inexistente nas colônias do Norte, porém era minoria se comparado às do Sul.
- Por Giulia Santana
Sugestão para Assistir:
Série da Netflix – A vida e a História de Madam C. J. Walker
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