O Papel da Arte em Meio ao Caos
- Pugna!
- 7 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Estamos vivendo um verdadeiro caos. Apesar da minha ainda breve estadia nessa Terra, não me lembro de um momento mais complexo e delicado. Analisemos, no curto período que se passou desde o começo do ano 2020, já tivemos uma pandemia que tirou mais de 400 mil vidas ao redor do mundo, além de destroçar a estabilidade econômica de vários países (1). Ocorreram também inúmeros protestos, seja a favor de governos, contra governos, a favor do isolamento, contra isolamento. O principal deles, porém, é na luta contra o racismo. Nos últimos dias, a internet nos manteve informados sobre quão poderosos estão os protestos diários nos Estados Unidos, incentivando então protestos em vários outros locais, como o Brasil. Já que, nos últimos dias acompanhamos também a morte das crianças pretas João Pedro e Miguel, uma por violência policial e a outra pela patroa irresponsável de sua mãe. Como cereja desse bolo, cuja farinha é composta de catástrofes, temos um governo que cada dia a mais tende ao autoritarismo e falha desde o princípio da pandemia em controlá-la, recusando-se a escutar a ciência. Em meio a tudo isso, temos a arte. Qual o papel dela nisso tudo¿
Esses dias, tenho visto conteúdos muitíssimo interessantes. E nem apenas pelas lives, que já arrecadaram milhões de reais para ajudar pessoas em necessidade no meio dessa crise. Suas músicas têm nos mantido entretidos nesses momentos caseiros. Para muitos, é uma fuga da realidade, da rotina baseada em andar do quarto para sala, da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto. Pode ser difícil para alguns manter a sanidade mental nesses momentos, e condições como ansiedade ou depressão são agravadas.
Apesar disso, para muitos, é um momento de reinventar-se. Criar arte agora, seja na escrita, por vídeo, por desenho, por pintura, ou qualquer outra forma, tem caráter libertador. Alguns usam para terapia, outros usam como meio de gerar informação, de contribuir para uma causa. Foquemos nos últimos mencionados. Não porque os primeiros sejam menos importantes, mas porque a arte tem um poder incomparável de contribuir para a sociedade de forma muito íntima, pessoal.
Um exemplo que chamou minha atenção essa semana foi a mobilização de artistas para que seus seguidores doem para organizações focadas na causa negra. Yuhki Demers, conhecido por ter participado na animação de Homem-Aranha no Aranhaverso, decidiu oferecer consultorias e aulas particulares em troca de doações. Outra artista, menos conhecida, foi Mikayluh Bowers, estudante de animação na Ringling College of Art and Design. Mikayluh ofereceu caricaturas e adesivos também em troca de doações. Atitudes como essas, que parecem simples, na verdade ajudam bastante o movimento negro e organizações que muitas vezes dependem dessa contribuição.
Além disso, a mini-série documentária Quarentine Tales foi desenvolvida pela Mídia Ninja e pela Casa Átomo Filmes especialmente sobre esse momento de isolamento social. Ele conta com a participação de 14 diretores diferentes, um para cada episódio, que documentaram suas vidas em quarentena. Assim, cada episódio apresentará um olhar único, tanto profissional como individualmente, e bastante íntimo já que os eventos se passam sobre suas próprias experiências. O conceito ao todo é bastante interessante e triunfa em seu propósito de aproximar mesmo com tamanha distância.

Foto por Mídia Ninja (2)
Por fim, uma das formas artísticas que mais me encantam são as charges e os quadrinhos. Talvez por seu forte potencial político e informativo, minha paixão só cresceu nessa quarentena, e tive oportunidade de consumir conteúdos que recomendaria a todo mundo. Leandro Assis é, atualmente, meu quadrinista favorito. E, não por coincidência, ele também adequou seu conteúdo a esse período dificílimo, retratando a relação abusiva entre a patroa branca e rica e sua empregada preta e pobre, além da diferença exorbitante entre suas realidades. A série em quadrinhos Confinada, escrita por Leandro e Triscila Oliveira, investe em nos fazer refletir sobre nossas próprias relações e privilégios.

Quadrinhos por Triscila Oliveira e Leandro Assis
Esses são apenas alguns exemplos de como a arte tem cumprido um importante papel social nessa quarentena. Agora, é essencial lembrarmos dos artistas locais que estão seus trabalhos inviabilizados nesse momento. Entre em contato com essas pessoas, consuma seus produtos, divulgue-os. Valorizar arte vai além de curtir um post no Instagram. O momento de apoiar artistas é agora. Ademais, espero que se você mesmo estiver se sentido desmotivado, que procure alguma forma de expressão artística, o resultado pode ser inesperado.
- Por Celi Mitidieri
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