top of page
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon

Ofélia - A coragem por trás da sutileza

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 22 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Ofélia, Jonh Everett Millais


 

Desde o lançamento da peça Hamlet, o suicídio da jovem Ofélia tem sido bastante retratado em pinturas, poemas, filmes e músicas. Porém, é inegável que sua morte é constantemente romantizada e mal interpretada por muitos na cultura popular. Portanto, torna-se necessário analisar devidamente seu papel, seus sentimentos e sua discreta, mas inteligente e comedida, coragem.


Nos dois primeiros atos da peça, Ofélia é vista pela maioria da corte, especialmente pelo seu pai, como uma simples ferramenta para chamar a atenção de Hamlet e desvendar suas intenções. Ela, intensamente apaixonada por ele, se permite ser constantemente sexualizada e ridicularizada, pois acredita que, no fundo, ele também a ame e queira se casar com ela. Entretanto, no terceiro ato, o pai de Ofélia, Polônio, ordena que ela devolva a Hamlet todas as cartas de amor que recebeu dele e que termine seu caso amoroso. Isso leva Hamlet a um surto, e ele acaba dizendo que o único lugar adequado para ela viver é um prostíbulo, mesmo sendo virgem.


O sofrimento de Ofélia só aumenta quando, ainda no terceiro ato, Hamlet acidentalmente mata Polônio e volta a seus estudos na Inglaterra. A esse ponto, a única esperança de Ofélia é o conforto de seu irmão, Laerte, que retorna à Dinamarca. Porém, ao invés de confortar sua irmã e respeitar seu luto, Laerte deseja apenas vingar a morte de seu pai.

A junção da crueldade de seu amante, o luto por seu pai e o desdém de seu irmão traz a Ofélia uma grande dor, caracterizada pela dor existencial e inconformidade com tudo a seu redor.


Na última cena do quarto ato, a Rainha Gertrude descreve a morte de Ofélia a Laerte e ao Rei em detalhe; "um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada. Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculas, margaridas, urtigas e de flores de púrpura. (...) Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados, um dos ramos invejosos quebrou, lançando na água chorosa seus troféus de erva e ela própria. Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, sem revelar consciência da desgraça, como criatura ali nascida e feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, não demorou, sem que os vestidos se tornassem pesados de tanta água e que de seus cantares arrancassem a infeliz para a morte lamacenta."


Por causa de tal descrição, a personagem de Ofélia é dada como fraca e é subestimada por muitos. Porém, durante a peça, é notável que ela constantemente se pronuncia contra corrupção e injustiça de um jeito particular, discreto e feminino, por trás de uma máscara de aparente loucura que a ela foi imposta. Enquanto Hamlet se debate com sua indecisão, Ofélia declara suas crenças sobre o que é certo e errado e confronta a sociedade com discursos subversivos e únicos, por exemplo, no quarto ato, ela dá flores que representam infidelidade e arrependimento para a Rainha e menciona que as violetas, representativas da esperança, desabrocharam após a morte de seu pai.


Com isso, fica evidente que a personagem, apesar de escolher a morte, ser estereotipada pela sociedade e perder sua inocência, representa esperança, por acreditar nas falsas promessas de Hamlet, coragem e sutileza, pelas suas críticas sagazes e marcantes, e bondade, por desejar o bem de todos ao seu redor, mesmo não sendo retribuída. Tais características não são presentes em mais nenhum personagem da peça e em grande parte da população atual e é por isso que Ofélia deve ser lembrada; pela sua empatia em meio ao caos, e não por uma decisão drástica e permanente a problemas temporários.


- Por Ana Ferreira da Motta Costa

Comments


bottom of page