Opinião x Conhecimento: entre o achismo e a evidência científica
- Pugna!
- 24 de mai. de 2020
- 4 min de leitura

Quantas vezes já vimos uma discussão se encerrar no beco da opinião? A terra segura de ninguém, o espaço viável para a fala aleatória em defesa de qualquer absurdo que se julgue verdade, essa é, infelizmente, a seara atual dos opinadores. A opinião se tornou um problema recente da humanidade, principalmente porque essa mesma humanidade se tornou tão numerosa que a multidão de ignorantes perdeu de vista o que realmente significa opinião e, o mais importante, perdeu de vista o que vem a ser conhecimento. Sem a devida clareza entre os limites da liberdade individual, devaneios pessoais passaram a disputar espaço de verdade com fatos e evidências científicas. É notório que no último século até mesmo a noção de verdade tem sofrido as consequências pelo caminho que vamos trilhando. A filosofia e a sociologia agora se deparam com a hercúlea tarefa de tentar lançar um pouco de luz nas nossas novas trevas a fim de que tenhamos alguma chance de evitar o precipício da barbárie à nossa frente. A discussão está longe de acabar, e enquanto isso, conceitos como pós-modernidade e pós-verdade estão sobre a mesa inquietando nossas reflexões sobre o momento em que a humanidade se encontra.
Antes de prosseguirmos, é de suma importância esclarecer que todo tipo de conclusão baseada puramente nos sentidos ou em qualquer tipo de percepção ou dedução particular é o que se entende por opinião. Algo que é muito diferente de conhecimento. O conhecimento é algo que se origina a partir do raciocínio filosófico, não é de maneira nenhuma algo parcial ou apoiado meramente em achismos de quem quer que seja. O raciocínio filosófico, em sua busca pela verdade, é o que nos levou a desenvolver o método científico, levando em consideração fatos e evidências perfeitamente verificáveis na hora de estabelecer qualquer tipo de conclusão acerca da realidade que nos cerca. Desse método empírico para obtenção de conhecimento é que se origina a ciência e, por sua vez, todas as conclusões científicas voltam para as mãos do filósofo para que este possa, a partir dos dados que a ciência fornece, construir os argumentos necessários para se afirmar um novo conhecimento. Dentre outras coisas, é por esse motivo que a filosofia é a mãe de todas as disciplinas, pois não só deu origem a todas elas através do seu método de raciocínio, como se constitui como uma indispensável ferramenta em todo ramo do conhecimento.
Imagine experimentos realizados em física, química, biologia, matemática, linguística, ou qualquer outra disciplina. Ao final de cada experimento o cientista obtém seus resultados, dados apenas. Tais dados são então interpretados à luz de uma perspectiva filosófica e crítica para que possam ser organizados numa narrativa argumentativa e se tornem compartilháveis dentro da comunidade científica e da comunidade leiga em geral. Percebam que o conhecimento se articula então a partir de dois fatores: dados empíricos confiáveis e reflexão filosófica. Qualquer coisa que não conjugue esses dois fatores é simplesmente opinião, achismo, especulação, abobrinha sem nenhum valor a não ser como passatempo numa mesa de bar. Portanto, antes de levar em conta qualquer notícia, posicionamento, sermão, textão de baixo calão ou demais asneiras compartilhadas pelo WhatsApp, Facebook, Instagram e sites de mídia independente examine se esses dois fatores estão presentes. Caso não estejam presentes, trata-se apenas de opinião e na condição de opinião particular é preciso ter também o devido cuidado para reconhecer quando um assunto é de ordem particular e cabe juízos de valor opinativos ou quando se trata de um assunto sério e com devido conhecimento produzido na área. No caso de um assunto sério, atenha-se ao que você sabe, respeite as suas limitações e busque conhecimento de maneira responsável.
A geração que mais tem acesso à informação, ironicamente, é também a geração da desinformação. Somos a geração da facilidade, que tem quase tudo ao alcance de um clique. Até mesmo corpos alheios são colocados ao alcance de uma curtida para satisfazer nosso desejo por uma nova parceria sexual. Deixamos de tratar o outro como um indivíduo para fazer dele um suprimento sexual, um objeto que comodamente está disponível como um enlatado nas prateleiras de um supermercado. O capitalismo da nossa economia emprestou seus critérios para capitalizarmos desejos, sentimentos e objetificarmos o outro como produto a ser consumido. Esse padrão de conduta está tão enraizado que agora nos conduz a um erro crasso, tentar facilitar e capitalizar a obtenção do conhecimento.
E nesse ponto nós caímos do cavalo outra vez. Pode até ser fácil e instantâneo objetificar e consumir o corpo de outra pessoa, consumir produtos culturais massificados em forma de música, filmes e livros evasivos, mas o conhecimento não é algo instantâneo. Não dá para adquirir conhecimento com um clique. E aqui eu deixo uma das mais importantes advertências: não existe atalho para o saber, você não vai ser filósofo com graduação em YouTube, nem cientista político graduado no Twitter. Felizmente não é esse o caminho e você não vai conseguir nada além de frases feitas e superficialidade a serviço dos interesses daqueles que já perceberam a utilidade dessas ferramentas para a manipulação das massas. Se você quer obter conhecimento real, eu sinto lhe informar que você vai ter que ler, gastar tempo e estudar. Não tem pílula mágica nem vídeozinho divertido. O máximo que você vai encontrar nas mídias é algo que lhe motive a saborear mais do conteúdo que lhe foi dado como amostra grátis. Em parte, é isso que fazemos aqui no Pugna também, nós divulgamos informações, notícias, compartilhamos a nossa opinião, quando é o caso, em debates e artigos que se encaixem com o propósito, além de compartilhar também algumas amostras grátis de conhecimento adquirido, sempre com o intuito de inspirar a busca pessoal por mais conteúdo longe desse mundo de facilidades, lá no mundo real onde o conhecimento de fato está.
Queremos que você saia da bolha, que você cresça e venha se juntar a nós no debate, na conversa e na troca de experiências. Somente o esclarecimento pode fazer de vocês verdadeiros iluminados (pegando a metáfora iluminista para aqueles que priorizam o conhecimento real). Sem o amparo do bom senso, do conhecimento e da racionalidade seremos apenas vozes vazias movidas por interesses escusos, seremos apenas ecos de notícias falsas ou pior, seguidores de algum gentil equivocado ou de algum convicto vigarista inebriado com o poder.
-Por Ivan de Aragão
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