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Sociedade dos Poetas Mortos: poesia, amizade e esperança

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 12 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

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|CONTÉM SPOILERS|


Sociedades dos Poetas Mortos foi lançando no final de 1989, mas se passa em 1959, no começo de um novo ano letivo na Welton Academy, um internato de elite para garotos do ensino médio em Vermont. Trinta anos após seu lançamento, o filme, apesar de não ser tão valorizado quanto outros clássicos, continua sendo relevante em contextos atuais e traz uma reflexão sobre nossos reais objetivos, inspirações e motivações, além de fazer incríveis homenagens à poesia moderna e à amizade e de nos ensinar sobre esperança.


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No filme, seguimos um grupo eclético de amigos composto por Gerard Pitts, Richard Cameron, Stephen Meeks, Knox Overstreet, Charlie Dalton, Neil Perry e Todd Anderson. O último é novato na escola e posto como colega de quarto de Neil, um jovem extremamente extrovertido, ao contrário de Todd, e sonhador. No primeiro dia de aula, eles são surpreendidos pelo recém-contratado Professor Keating, que realiza uma aula sobre poesia inglesa nada ortodoxa, levando os alunos para fora da sala de aula, os instruindo a chamá-lo de "O Captain, My Captain!", como no famoso poema de Walt Whitman e ensinando o conceito de "carpe diem": aproveitem o dia, mostrem do que são capazes agora, não esperem. Ademais, em sua segunda aula, o professor ordena aos alunos que arranquem as páginas da introdução do livro didático de literatura, afirmando que, para realmente entender a poesia, não é necessário avaliar a perfeição da linguagem nela usada, a rima ou a métrica; é preciso saborear a forma como as ideais são expressadas, pois, segundo ele, poesia, beleza, amor e romance são as únicas coisas pelas quais realmente vivemos.


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A aula de Keating desperta curiosidade em todos, mas principalmente Neil, que ao pesquisar sobre o professor, descobre que ele participou de um clube chamado "Sociedade dos Poetas Mortos". Ele e seu grupo vão atrás do professor e o perguntam sobre o clube, e ele afirma que toda noite, ele e um grupo de amigos se encontravam numa caverna a algumas milhas de distância de Welton e recitavam poesia de escritores como Thoreau e Frost, além de criarem poemas autorais. Neil se anima com a ideia e chama todos do grupo para fazerem parte do clube. Todos aceitam com relutância, menos Todd, que por sua timidez, aceita participar do clube com a condição de não ser obrigado a recitar poesia.


Algumas semanas se passam, e o grupo começa a se encontrar toda noite e a se inspirar cada vez mais com as aulas de Keating, mesmo que cada um deles esteja passando por dificuldades diferentes. Knox, por exemplo, se apaixona perdidamente por Chris, uma menina de outra escola que é namorada do filho de amigos dos pais dele. Ele vai à escola dela, entrega flores e recita um poema que fez para ela. Ele sabe que talvez ela não sinta o mesmo que ele, mas persiste porque sabe que precisa expressar seus sentimentos e ser impulsivo; foi isso que Keating o ensinou.


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Dalton segue um caminho diferente; ele, que nunca foi exatamente um santo, assume o alter ego Nuwanda e se rebela contra Welton, pondo no jornal da escola informações sobre a Sociedade dos Poetas Mortos e exigindo que garotas sejam aceitas na escola. Após isso, ele recebe um duro castigo físico e é forçado a dar ao diretor Nolan informações sobre o clube, mas não o faz, pois passa a entender que suas ações não condisseram com os objetivos da sociedade e os ensinamentos de Keating. No final do filme, ele é expulso da escola (por um motivo bem importante que diz respeito a outros personagens, daqui a pouco chego lá). Já Meeks e Pitts são inseparáveis; eles constroem um rádio juntos, algo que não é permitido em Welton, e se ajudam constantemente com os estudos, visto que querem ser admitidos em universidades exigentes, mas não deixam de atender às reuniões da sociedade, pois sabem o quanto ela os ajuda a lidar com o stress e a pressão de Welton.


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Deixei Cameron, Neil e Todd por último, uma vez que as histórias de dois deles se entrelaçam, enquanto um deles tenta acabar com a sociedade e com o que ela construiu. Durante quase o filme inteiro, Todd é como um figurante entre os membros do grupo; ele sempre se posiciona atrás de todos, por vezes nem sendo capturado pela câmera e nunca expressa sua voz entre eles. Tudo muda quando ele se aproxima de Neil, seu completo oposto, que o incentiva, indiretamente mas propositalmente, a achar sua voz e a usá-la. Neil, por sua vez, é o mais esforçado academicamente do grupo, mas mesmo assim não tem um querer sobre o que fará em seu futuro. O pai dele deseja que ele estude medicina em Harvard e o faz direcionar seus estudos a isso, mesmo que tal carreira esteja longe das vontades dele. Após as aulas de Keating, Neil finalmente descobre sua verdadeira paixão: atuar. Ele se inscreve para uma audição numa produção da peça "Sonho de uma Noite de Verão", e imediatamente conta o ocorrido para Todd, que se mostra nervoso com a escolha de Neil, pois sabe que o pai dele não o apoiará. Durante uma discussão, Neil indaga qual seria o motivo pelo qual Todd é do jeito que é; introvertido e pessimista. Todd afirma que, ao contrário de Neil, se ele falasse não o ouviriam, mesmo que sua ideia fosse importante. Neil e Keating convencem Todd de que isso não é verdade; Neil através de seu incentivo constante para que ele se conheça e encontre humor e alegria nas situações mais deprimentes, e Keating por meio do estímulo que dá a Todd para que expresse seus sentimentos através da poesia. Ele mostra a Todd que, mesmo sem floreios e palavras elegantes, todos nós, seres humanos que sentem intensamente, somos poetas.


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Enquanto Todd se abre mais a novas oportunidades, Neil é pressionado a se fechar. Ele é aprovado na audição, ganha o papel principal da peça e, com muita relutância por parte de seu pai, atua na noite de estreia com uma performance altamente elogiada pelos amigos e por Keating. Porém, o pai de Neil não fica nada impressionado ou feliz com a peça e acaba o levando à casa e decidindo que Neil não irá mais estudar em Welton e que ele deve se preparar para a universidade de medicina em outra escola.


Neil fica profundamente deprimido com esse ultimato e, num ato impulsivo e permanente, tira sua própria vida. A reação da sociedade a isso, especialmente a de Todd, é depressiva e tocante; eles perderam um líder, um amigo completamente verdadeiro, uma enorme fonte de inspiração e incentivo. Após esse acontecimento, o corpo docente de Welton e a família de Neil coloca a culpa de seu suicídio no Professor Keating, que segundo eles, teria incutido nos estudantes ideias anarquistas e que levaram Neil ao suicídio. Com isso, Cameron, que sempre de alguma forma ridicularizou a sociedade mesmo fazendo parte dela, faz uma denúncia mentirosa sobre o caráter de Keating à coordenação do colégio. Zangado com essa traição, Dalton agride Cameron e é expulso de Welton.


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Eu assisti Sociedade dos Poetas Mortos com 13 anos e fiquei triste, mas ao mesmo tempo deslumbrada; os ensinamentos de Keating, mesmo sendo reprimidos pela sociedade, inspiraram um grupo de jovens cujo único foco era passar em uma boa universidade, ter boas notas e satisfazer as vontades dos pais apenas. Outrossim, aprendi que os poemas que eu escrevia não eram besteiras ou formas de chamar atenção, e sim jeitos de mostrar meu amor pela vida e minhas frustrações com ela. Um ano depois de assistir o filme (e o reassisti muitas vezes), conheci alguém que foi como Neil pra mim, o nome dela é S.L.


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Ela sempre foi meu completo oposto, tanto no ambiente escolar, quanto em questões sociais e de personalidade. Ao passo que eu era introvertida e passava os intervalos lendo ou tentando entender algo relacionado à exatas que não havia entendido na aula anterior, ela conversava com todos ao seu redor, sorrindo, mesmo que não estivesse totalmente feliz por quaisquer razão, e espalhando alegria por onde passava. Ao se aproximar de mim, ela trouxe à tona características que eu nunca soube que tinha e me incentivava a usar minha voz, mesmo que muitas pessoas não concordassem com ela. S.L. é o tipo de pessoa que planta uma semente do bem em você, como Keating, e que te anima em situações não tão boas, como Neil.


Sociedade dos Poetas Mortos é um filme para todos, para a parte de nós que às vezes não sabemos que existe, a parte que sente intensamente e não sabe como demonstrar isso, para os conflitos internos que temos constantemente. O filme está disponível na Netflix e, acho válido dizer caso não tenha o frisado bastante, é essencial para nosso autoconhecimento e autoaceitação.


-Por Ana Ferreira da Motta Costa

 
 
 

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