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Tempo de Morte: 450 Anos - A ameaça do plástico

  • Foto do escritor: Pugna!
    Pugna!
  • 14 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Quantos produtos plásticos você usa por dia? Uma garrafinha de água, um copo, uma sacola, um canudo, uma escova de dente, um cotonete, um prato, talheres e tantos outros. Você precisa mesmo que isso tudo seja feito de um material que demora 450 anos para se deteriorar (1)? É preocupante quando analisamos que, ao jogar um produto qualquer no lixo, imaginamos que ele suma. Para nós, ele desapareceu. A realidade não é bem assim. Ao redor do mundo, 300 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente (2). Nos últimos dez anos nós produzimos mais plástico do que no século antes disso (3). Conseguimos superar em dez anos a produção dos cem anteriores. Esse não é um recorde que fico feliz em compartilhar. Mas a questão é: aonde vão todos esses desperdícios? Muito dele, seja por chuvas, ventos ou qualquer outra razão, chega ao mar. Sendo mais exata, cerca de 10 milhões de toneladas de plásticos entram no oceano anualmente (4). Em 2050, a expectativa é de que o mar possua mais plástico do que peixe em medida de peso (5). Nesse mesmo ano, dados mostram que a quantidade do material produzido pela indústria irá triplicar. Isso é, se nós como cidadãos não nos educarmos para o fato de que esse é um problema seríssimo que trará graves consequências à nossa sociedade. Mesmo se parássemos hoje toda a nossa produção, ao viajarmos às áreas mais fundas do oceano, por séculos encontraremos resquícios de nosso dia a dia.


Devemos parar para refletir no nosso poder como consumidores. Ao comprarmos produtos plásticos, contribuímos negativamente para inúmeros ecossistemas. Estatísticas afirmam que 90% das aves marinhas possuem algum fragmento de plástico no estômago (6). Muitos morrem porque seu estômago está tão cheio com o material, o qual não pode ser digerido, que não cabe mais comida e eles sofrem uma falsa sensação de saciedade, além de trazer toxinas para seus organismos. O que muitos não sabem é que quando o plástico está no oceano, mais especificamente microplástico, ele atrai substâncias tóxicas que se ligam a ele. Tais substâncias permanecem em seus corpos até o fim de suas vidas, seja ela por morte morrida ou matada, como diz o ditado. O problema vem quando esses peixes pequenos, que se alimentam desse material, servem de alimentos para outros maiores, crescendo na cadeia alimentar. Com isso, quanto mais perto do topo estiverem, consequentemente mais toxinas se encontrarão em seus corpos. E não para por aí. Muitos desses animais servem de alimento para nós, seres humanos. Ou seja, essas substâncias nocivas também se armazenarão cada vez mais em nossos corpos, o que pode trazer disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas (7).


O perigo está não somente nesses produtos químicos, mas no próprio material plástico. De acordo com um grupo de cientistas do Departamento de Biologia da Universidade de Victoria, no Canadá, a ingestão de microplásticos é de 74 mil a 121 mil partículas por ano, variando de acordo com idade e sexo. Para entendermos um pouco mais quão significativo é esse número, analisemos o comparativo de que “se considerarmos o limite extremo dessa escala, ingerir 121 mil partículas de microplásticos - na hipótese de isso ser feito de uma só vez - seria o equivalente a engolir uma fita plástica de 605 metros” (8). Assim, o nosso padrão de consumo torna-se perigoso não só para nós como indivíduos, mas como sociedade.


Ao tratarmos do microplástico, temos um problema quase invisível. Isso porque as partículas variam de tamanhos microscópicos até 5 milímetros de comprimento. O documentário Oceanos de Plástico, atualmente disponível no serviço de streaming Netflix, mostra tal característica com perfeição. Em uma de suas cenas, o mar está azul, aparentemente livre de poluição em sua superfície. Porém, ao colocar na água uma espécie de coador, várias partículas de microplástico são vistas. Isso em pleno alto mar, afastado de cidades. Imaginemos então como não é essa situação em áreas mais próximas de regiões industrializadas. Essas minúsculas partículas quase invisíveis na imensidão do oceano são um dos maiores poluidores do oceano. Entenda um pouco mais sobre o problema na foto abaixo!


O crescimento industrial desenfreado de algumas ilhas no setor de importações levou à criação de enormes lixões sem o mínimo de estrutura. A capacidade de retirar esse lixo do local não existe, então ele polui não só o solo, mas também a água. Locais que antes eram tidos como paraísos naturais veem atualmente a pesca ou o plantio impossibilitado em certas áreas. Além disso, a morte chega mais cedo para essas pessoas pelo contato com tanto lixo e poluição (3). Algumas comunidades utilizam o plástico, por ser mais barato, para ajudar na queima de madeira. Essa ajuda na hora de fazer comida, uma prática diária por anos e anos, pode trazer seríssimas consequências. Quando queimado, o plástico libera diversas substâncias tóxicas para a saúde daqueles que inalam sua fumaça. Por desinformação ou falta de opções condizentes com as situações financeiras da família, ainda é uma prática usada comumente por muitas comunidades.


Assim perpetua-se a morte pelo plástico, que se prolonga por ao menos 4 décadas e meia. Quantos animais não perderam suas vida nesse período? Quantos não ficaram doentes? Quantos viveram debilitados? Quanto desses materiais não vieram parar em nossos corpos sem que nem soubéssemos? O tempo de entender o problema e revertê-lo é agora. A sustentabilidade é o único caminho para a prosperidade. Do contrário, nossos filhos e netos viverão num mundo em crise, onde a luta por água potável gera guerras. Que estudemos diariamente para prevenir um futuro catastrófico. Tudo que foi aqui dito ainda é uma análise muito superficial do problema, que serve para instigar pesquisas mais profundas em relação ao tema que definirá nosso futuro. Eu termino então minha análise com uma das minhas frases favoritas, presente no documentário que me inspirou a escrever essas palavras, Oceanos de Plástico, “com o conhecimento, vem a importância. Com a importância, vem a mudança.”


- Por Celi Mitidieri


1ª foto: Foram encontrados 47 fragmentos de plástico no estômago de um peixe-porco (SEA / David M. Lawrence)

Foto da Capa: A fotógrafa britânica Mandy Barker decidiu alertar as pessoas sobre a poluição dos oceanos utilizando microplástico e resíduos plásticos encontrados em praias.


Fontes:

3. Documentário Oceanos de Plástico

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